Grande desafio: combate ao narcotráfico
Troncon disse que as drogas ilícitas são uma espécie de “commodities (grãos e minerais comercializados no exterior) do “submundo do crime”. E esse comércio existe porque continuam existindo consumidores, afirmou.
Há consumidores, há demanda em todo o mundo. E quanto mais se aumentam os mecanismos de repressão, maior valoração adquirem esses bens. Logo, há uma alta e rápida lucratividade, afirmou Troncon em entrevista à Agência Brasil.
Segundo ele, o tráfico é explorado por organizações criminosas bem estruturadas, em maior ou menor grau. Embora algumas drogas, como a cocaína, tenham a produção centrada em dois ou quatro países da região andina, para chegar aos consumidores do mundo inteiro elas têm que passar por um processo de comércio exterior ilícito.
Nesse contexto, o diretor da Polícia Federal afirmou que o enfrentamento ao tráfico de drogas é uma prioridade mundial, porque é a grande fonte de recursos dessas empresas do crime, que obtêm de forma rápida vantagens econômicas e estabelecem um poder econômico que acaba ameaçando estados por uma outra ordem de crimes associados.
Entre eles, Troncon enumerou os crimes violentos contra pessoas, a corrupção de agentes público e a infiltração no aparelho do Estado. Essa infiltração aconteceria sob a forma de patrocínio do ingresso de pessoas em cargos públicos-chave, que vão desde agentes penitenciários, juízes e, até mesmo, o favorecimento de pessoas para ocupar cargos eletivos nos três níveis de governo, indicou.
O tráfico de drogas é um fenômeno com o qual nenhuma nação do mundo pode se dar ao luxo de dizer que não sofre conseqüências, assegurou o diretor.
A estratégia brasileira no combate ao narcotráfico passa, segundo afirmou Troncon, pela integração entre os estados, no campo doméstico, e entre os vários países, na esfera internacional. Ele reconheceu que não é uma ação simples, nem existe uma fórmula ou modelo a ser aplicado, uma vez que depende de vários fatores, como o local e a origem do país com o qual está se relacionando.
Essa integração prevê desde o intercâmbio de informações em nível policial às entregas vigiadas e a realização de operações conjuntas e simultâneas em vários países, potencializando o elemento surpresa para facilitar a prisão de suspeitos, além da apreensão de provas de crimes e interdição de drogas.
Roberto Troncon enfatizou que uma tarefa prioritária no combate ao crime organizado é a recuperação de ativos. O enfrentamento do narcotráfico e de organizações criminosas em geral passa pela afetação do seu patrimônio. Não basta colocar na cadeia o presidente ou os diretores de uma grande empresa do crime. Você tem que bloquear, confiscar, seqüestrar o patrimônio dessa empresa, para levá-la à bancarrota, avaliou o diretor da Polícia Federal.
Ele afirmou ainda que a sociedade deve se conscientizar de que algumas ações podem contribuir tanto para o fomento do narcotráfico como para amenizar esse problema no país. É indissociável a ligação entre o usuário de classe média e média alta da cocaína com o fenômeno da criminalidade e da exploração do narcotráfico em regiões paupérrimas de favelas, apontou.