Greenhalgh pediu informação sobre PF a Planalto

11 de julho de 2008 10:40

Na última delas, ele pediu que o amigo petista procurasse saber se havia investigação em algum órgão da Presidência da República sobre Humberto José da Rocha Braz, homem de confiança de Daniel Dantas que participou da oferta de propina a um delegado da Polícia Federal (PF) para tentar excluir o banqueiro das investigações que culminaram na Operação Satiagraha.

Braz, ex-presidente da Brasil Telecom Participações, teve a prisão decretada terça-feira, mas não foi localizado. A informação sobre o pedido de ajuda foi confirmada ontem por interlocutores de Carvalho, que está de férias.

Sem precisar datas, fontes confirmaram que Greenhalgh procurou Gilberto dizendo que Braz, seu cliente, estava sendo seguido e que averiguação da Divisão Anti-seqüestro da Polícia Civil do Rio descobrira que a perseguição era feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Carvalho, mesmo estranhando o pedido, procurou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência – órgão que controla a Abin – e apurou que Braz, naquele momento, não estava sendo investigado. Carvalho então tranqüilizou Greenhalgh.

Greenhalgh ajudou a solucionar litígio
O empenho de Greenhalgh não foi gratuito. Apontado pela Satiagraha como suposto braço político de Dantas, ele foi contratado para trabalhar para o Opportunity em abril de 2007, para encontrar uma solução para o litígio do banqueiro com fundos de pensão e Citigroup, controladores da BrT. Não apenas a partir de um pente-fino em todo o material judicial, mas principalmente para abrir canais no núcleo do governo, já que havia forte resistência a uma solução negociada.

O ex-deputado foi procurado inicialmente pelo publicitário Guilherme Sodré, conhecido como Guiga, sócio da GLT Comunicação, que tem o Opportunity entre seus clientes. Depois desse contato, Greenhalgh encontrou-se com Dantas. Ouviu do banqueiro o desejo de vender suas ações na BrT, na Telemig Celular e na Oi.

Dantas disse que queria sair do setor de telefonia, mas tinha dificuldades para deixar a sociedade por causa da briga entre os sócios. Ele culpa o ex-ministro Luiz Gushiken (da Secretaria de Comunicação) pela perda do poder na BrT, em setembro de 2005. O banqueiro queria aproveitar as negociações que envolviam a fusão bilionária da BrT com a Oi para solucionar o impasse. Para fazer um bom negócio, ele apostava na intenção do governo de avalizar a supertele.

Nas conversas com Dantas, Greenhalgh deixou claro que o banqueiro deveria de fato assumir o compromisso de deixar o setor de telefonia para chegar a um acordo. Diante da resposta afirmativa, o ex-deputado informou ao Palácio do Planalto. A participação de Greenhalgh nas negociações foi bem-recebida no núcleo do governo, inclusive por Lula.

Mas assim que o acerto foi fechado e as ações judiciais foram canceladas, o que permitiu que os acionistas da BrT assinassem o contrato de venda da empresa para a Oi no final de abril, foi noticiada a investigação da PF em cima do Opportunity. Greenhalgh, então, Acionou Carvalho e não confirmou as investigações.

Mas na última terça-feira, o ex-deputado foi surpreendido com um telefonema de Guilherme Sodré, às 6h45, informando que policiais federais estavam em seu apartamento cumprindo um mandado de busca e apreensão. Greenhalgh chegou a acompanhar a ação da PF e só no início da tarde foi informado de que havia sido pedida a sua própria prisão, negada pela Justiça.

Fontes próximas a Gilberto informaram ainda que Greenhalgh se encontrou três vezes com o chefe do gabinete de Lula como advogado. Nas audiências, o ex-deputado acompanhou representantes do Hospital do Câncer de Jaú interior de São Paulo), que queria mais recursos e a visita de Lula; e uma associação de produtores de leite, que pedia incremento da produção e do consumo.

Ex-deputado é ligado à área católica do PT
Um terceiro encontro teve como objetivo tratar do Padre Júlio Lancellotti, acusado à época de pedofilia. Greenhalgh tem ligação histórica com direitos humanos, tendo defendido vários presos políticos. Já Gilberto, ex-padre, é da área católica do PT.

A assessoria de imprensa do Palácio disse que Carvalho não estava disponível para conceder diretamente entrevistas, por estar em férias. Também informou que a Presidência da República não comentaria os contatos de Gilberto e Greenhalgh. Procurado pelo GLOBO, o ex-deputado informou que já soltou uma nota à imprensa sobre o episódio.