Grileiros na mira da PF

14 de janeiro de 2008 15:07

Com a ajuda de poderosas lentes de satélites, a ação de grileiros é vigiada de perto pela Polícia Federal. Cada vez mais, o cerco se fecha contra os homens que fazem parcelamentos irregulares em terras da União localizadas no Distrito Federal. A Área de Proteção Ambiental (APA) do Planalto Central, que engloba 40% da área do DF, também é alvo das investigações da PF. Dos cerca de 300 inquéritos instaurados na Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico (Delemaph), 159 deles, ou 53% do total, são relacionados à criação de condomínios irregulares.

Desde a criação da delegacia, em 2004, policiais e peritos criminais federais trabalham para mapear as ocupações, identificar quem são as pessoas responsáveis pela venda de lotes e dimensionar o impacto ambiental causado pela construção de casas em áreas de proteção.

Investigações da PF apontam que a Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubitschek (Arie JK) é uma das mais afetadas pela grilagem no DF. A região, que tem 2,3 mil hectares  equivalente a 2.787 campos de futebol  está na APA do Planalto Central.

A Arie JK é importante, ainda, por se tratar da principal região protegida situada no maior aglomerado urbano do Distrito Federal, formado pelas cidades Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. Em dois anos, foram elaborados 31 laudos periciais, todos parte de apenas um inquérito relacionado a invasões e danos ambientais causados pelas construções irregulares.

Manancial
A preocupação dos federais faz sentido. A Arie JK está situada na bacia do Rio Descoberto, maior manancial de fornecimento hídrico do DF, responsável pelo abastecimento de 61% da população de 11 cidades, além de fornecer água para o Sistema Integrado Santa Maria/Torto, abrangendo Plano Piloto, Lago Sul e Cruzeiro.

Policiais da Delemaph costumam investigar a ação dos grileiros e toda transação que envolve a compra e venda dos lotes dentro da Arie JK. O trabalho de mapeamento é feito com a ajuda de pessoas que vivem próximas à região. Relatórios sobre a atividade criminosa são enviados para o Ministério Público Federal.

Trabalho de campo
O trabalho de campo feito por peritos criminais federais do Departamento de Geoprocessamento do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF mostra que o núcleo rural Taguatinga  com 32 hectares  foi parcelado em cem lotes com tamanhos variáveis de 600, 800 e 1.000 metros quadrados. Os lotes menores foram vendidos por grileiros a R$ 25 mil cada um. A venda de cem lotes equivaleria, portanto, a um faturamento de R$ 2,5 milhões que, corrigidos a juros mensais de 0,5% durante dois anos, equivalem a uma quantia de R$ 3.129.052,05.

Para acompanhar o avanço da invasão fundiária no DF, a Polícia Federal usa imagens de satélite, arquivos de empresas como a Terracap, fotos aéreas e até imagens do Google Earth  serviço de imagens de satélite em alta definição.

Segundo o perito criminal federal Paulo Sérgio de Carvalho Dias, a maioria dos danos na Arie JK é decorrente das atividades de parcelamento irregular do solo ou de extração mineral sem a devida recuperação ambiental. “Em diversos pontos das áreas periciadas há indícios de desmatamento para retirada de madeira, formação de pastagens, além de cascalheiras desativadas”, disse.

O perito relatou que nas encostas onde houve desmatamento é possível observar processos erosivos, agravados pelo trânsito de veículos, animais e pessoas. “De forma geral, a remoção da vegetação nativa na porção central da Arie JK foi mais intensa que no extremo oeste, que teve um processo de ocupação mais brando”, explicou.