Insatisfação nos órgãos de segurança
Na última quinta-feira, 10, milhares de policiais do Reino Unido tomaram as ruas do centro de Londres para protestar contra os cortes aplicados pelo Governo e a atual deterioração das condições trabalhistas impostas pelo conservador, David Cameron. As divergências mostradas nos últimos meses pela Polícia em relação aos planos do Executivo culminaram em uma manifestação que coincidiu com uma jornada de greve dos empregados do setor público em protesto pelas mudanças em seu sistema de pensões.
A situação vivida pelos policiais na Europa, não é diferente da situação dos policiais brasileiros. Entre os órgãos de segurança pública, é crescente a insatisfação com o governo e as consequências são imprevisíveis. Na Polícia Federal, por exemplo, os seguidos cortes orçamentários, a falta de uma estrutura administrativa adequada, a não reposição da inflação, a demora na implantação de benefícios para os policiais lotadas nas fronteiras e a iniciativa legislativa de esvaziamento da aposentadoria policial está levando o órgão para um quadro de descontentamento generalizado.
Em Londres, cortaram cerca de 20% do orçamento da Polícia. Além disso, estão transferindo muitos dos serviços para companhias privadas. Em 2011, um relatório da Polícia alertou que os cortes orçamentários obrigarão a reduzir 34 mil postos de trabalho em um prazo de quatro anos, algo que, segundo o documento, faria aumentar em 3% os índices de criminalidade no Reino Unido.
No Brasil, ano passado, a PF investiu apenas 33% do que estava previsto. Cerca de dois terços da dotação inicial do programa de modernização, que prevê melhorias em infraestrutura e reaparelhamento do principal órgão de segurança pública do país, não foram liquidados, ou seja, dos R$ 254 milhões previstos, R$ 169 milhões deixaram de ser investidos.
Os cortes orçamentários na PF nos últimos dois anos viraram motivo de preocupação entre delegados. No ano passado, 20% da dotação inicial do Funapol não foi utilizada – o equivalente a R$ 96 milhões. Neste ano, somente 6,4% do orçamento total do fundo foi liquidado até a metade deste mês. “Neste ano estamos cumprindo o mínimo do mínimo da execução orçamentária”, afirma o presidente eleito da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio.
Segundo ele, em 2012 houve diminuição de despesas de custeio da PF em 5%, na comparação com 2011. As áreas mais sentidas, afirma, foram as que envolvem despesas do dia a dia (água, luz e combustível), e os deslocamentos, cuja liberação de viagens e diárias se tornou mais burocrática. “A operação policial acaba prejudicada porque não tenho recurso para montar equipe e deslocá-la de forma adequada”, explica.