Intervenção na Geap
O governo interveio na Fundação de Seguridade Social (Geap), que administra a maior parte dos planos de saúde dos servidores do Executivo. Responsável pela principal parcela dos aportes de recursos feitos pela União ao convênio médico — foram R$ 190 milhões em 2012 —, o Ministério da Saúde destituiu a representante da pasta no Conselho Deliberativo da fundação, Eloá Cathi Lôr, e abriu um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra ela. O PAD terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para apurar por que Eloá descumpriu a determinação dos ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Paulo Sérgio Passos (Transportes) de pedir ao Conselho que investigasse denúncias de direcionamento de verbas da Geap ao Distrito Federal e aos estados de São Paulo, Pernambuco e Paraíba.
No fim do ano passado, o Ministério da Saúde, que, ao lado dos Transportes e da Previdência, tem a maior parte dos 625 mil servidores atendidos pela Geap, questionou as razões pelas quais o Conselho Deliberativo destituiu o então presidente do colegiado, Paulo Eduardo de Paiva Gomes da Silva. Em carta endereçada ao ministro Padilha, Eloá — que estava no Conselho Deliberativo desde 2010 — alegou que Paulo Paiva não tinha boas relações com os demais integrantes do colegiado e havia suspeitas de que ele estivesse beneficiando quatro unidades da Federação no encaminhamento de recursos da fundação.
Padilha decidiu então convocá-la para uma reunião em 31 de janeiro, na qual estavam presentes o titular dos Transportes e o secretário executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabbas, para pedir que Eloá apresentasse, na reunião do Conselho que ocorreria na tarde do mesmo dia, a abertura de um processo de investigação das denúncias. Para a surpresa de todos, ela se calou diante dos demais conselheiros e, embalados pelo discurso de que Paulo Paiva já tinha sido afastado, nenhum procedimento investigativo foi aberto.
Irritado, o Ministério da Saúde decidiu destituir Eloá do Conselho e nomear como substituta Miraci Asturn, atual servidora do ministério. A medida abriu uma crise com a Geap. Com o apoio dos três representantes eleitos pelos trabalhadores, Eloá se recusa a deixar o cargo, alegando que foi eleita em 2010 para um mandato de quatro anos e só poderia ser destituída pelo voto dos demais integrantes do Conselho. O colegiado reuniu-se ontem, mas, sem consenso, a definição para o impasse foi transferida para depois do carnaval.
A paciência do Ministério da Saúde com a Geap já estava para se esgotar antes mesmo da crise deflagrada pela omissão de Eloá. Com uma dívida que chegou, no fim do ano passado, a R$ 400 milhões, a fundação enfrentava dificuldades para competir com os demais planos de saúde disponíveis no mercado. Com isso, perdeu convênios e viu médicos e hospitais desistirem de atender os segurados.
O caso mais emblemático do descredenciamento de hospitais aconteceu há exatamente um ano, quando o então secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, morreu após sofrer um enfarte e não ser atendido no Santa Lúcia e Santa Luzia. Os dois estabelecimentos de saúde se recusaram a atender o secretário por não aceitar o plano da Geap por falta de pagamento.
Rigor
O ministério e a Agência Nacional de Saúde (ANS) cobraram, desde então, que a fundação apresentasse um rigoroso plano de recuperação para corrigir as distorções verificadas na administração. Depois de sucessivos adiamentos, o programa de reestruturação foi apresentado e aprovado pela ANS no fim do ano passado. A dívida total já teria caído dos R$ 400 milhões para aproximadamente R$ 312 milhões nas primeiras semanas deste ano. A Geap pode ainda ampliar as perdas se a intervenção do Banco BVA, pelo Banco Central, se transformar em falência. A fundação tem aplicado na instituição aproximadamente R$ 36 milhões.
A situação de fundação desandou de vez depois que o governo decidiu acabar com a sua exclusividade no fornecimento de planos de saúde aos servidores. Diante do péssimo atendimento, os novos funcionários optaram por outros convênios e a carteira de segurados da Geap envelheceu, elevando seus custos operacionais. A tendência é de haver cada vez menos contribuições e despesas crescentes. Por isso, a necessidade urgente de pôr ordem na casa.
A crise na Geap embute ainda, segundo suspeitam integrantes do governo, uma má administração derivada do loteamento político. O presidente afastado, Paulo Eduardo de Paiva Gomes, teria ligação com o PP. Paraibano, um dos padrinhos dele seria o atual ministro das Cidades, Agnaldo Ribeiro. Em conjunto com o deputado Paulo Maluf (PP-SP), Agnaldo teria indicado Paulo Paiva em troca do apoio dado pelos pepistas à eleição de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, no ano passado.
Aliado do ministro, o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), eximiu o partido de responsabilidade na possível nomeação de Paulo Paiva. “Desafio quem quer seja a provar que a sugestão tenha sido do Partido Progressista. Nossa indicação foi do ministro das Cidades (Agnaldo Ribeiro) e substituições vinculadas à pasta. Jamais ouvi falar em Geap”, afirmou. Ele disse também não saber das negociações políticas entre o deputado Paulo Maluf e o PT para assegurar o apoio a Fernando Haddad em São Paulo.
E EU COM ISSO
Ao intervir na Geap para sanear as finanças da fundação, o governo tenta evitar o colapso de uma instituição que atende, atualmente, 625 mil servidores públicos e seus familiares. Com a crise vivida pela administradora do convênio médico, diversos hospitais, clínicas e médicos passaram a recusar o convênio, gerando gargalos e dificultando a vida de consumidores no momento em que mais precisam. Ao longo dos últimos anos, o governo tem feito incursões em diversos planos de saúde na esperança de que o atendimento à população se torne mais eficiente. Além de pensar no elo mais fraco da relação — o cidadão —, a União busca desafogar o Sistema Único de Saúde (SUS), já que muitos planos particulares transferem para a rede pública os casos mais complexos e caros. Com o Ministério da Saúde no comando da Geap, por ora, o risco de quebra da fundação está afastado.
Agora, é com a Justiça
Somente a Justiça poderá anular o concurso para enfermeiros promovido no último domingo pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Foi essa a mensagem dada pela subsecretária de Gestão do Trabalho e Saúde, Maria Natividade Santana, em encontro ontem com representantes do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate-DF). Segundo ela, a Fundação Universa, responsável pela aplicação das provas, garantiu a lisura do processo, cabendo, então, ao Ministério Público e à polícia investigarem as denúncias de irregularidades.
A indignação dos candidatos é grande, diante da confusão que viu na Universidade Católica de Brasília, onde ocorreram os testes. Há denúncias de pessoas que usaram celular durante os exames e de concurseiros que teriam passado questões pelas janelas do prédio, aos gritos, para os que chegaram para a segunda etapa da seleção — as provas foram pela manhã e à tarde. Inconformados com a omissão da Fundação Universa, cerca de 100 inscritos no exame protestaram durante toda a tarde de ontem em frente ao Palácio do Buriti pelo cancelamento das provas práticas.
O vice-presidente do Sindate-DF, Jorge Viana, explicou que os representantes da entidade já entraram em contato com a banca organizadora do certame, mas não houve progressos. “A Fundação Universa não identifica os erros apontados pelos candidatos, não reconhece as irregularidades”, afirmou. Em nota, a fundação divulgou que não houve, de sua parte, qualquer fato que comprometa o concurso ou prejudique qualquer candidato. Portanto, a seleção não deve ser cancelada.
Além de parte dos 1.391 candidatos que fizeram as provas práticas, participaram também da manifestação representantes dos 7 mil aprovados que não foram convocados para a segunda etapa do exame. Eles reivindicam a inclusão de todos os inscritos que tiveram nota suficiente para a aprovação. Apenas 1.391 tiveram o direito de realizar a segunda fase do concurso para uma das 400 vagas no sistema público de saúde do DF.
O enfermeiro Jefferson Júnior, 38 anos, foi um dos que não conseguiu participar da segunda etapa. “Desde o início, estamos mobilizados para mudar o edital. A demanda na área é enorme. Então, não entendo o porquê de o governo limitar o cadastro de reserva a pouco mais de mil pessoas”, reclamou. Segundo o sindicato, existe um deficit de 3 mil profissionais na área atualmente no DF.
Confusão geral
A prova realizada no último domingo gerou polêmica pela desorganização do processo seletivo. Segundo os candidatos, não havia fiscais suficientes, vários inscritos utilizavam celulares e se comunicavam dentro do prédio. No fim da prova, muitos gritavam, do lado de fora, as respostas das questões. “Nós não condenamos o comportamento dessas pessoas, porque, a partir do momento que se estabeleceu aquele caos, todos reagiram. Era cada um por si”, afirmou vice-presidente do Sindate-DF, Jorge Viana.