Juros não devem ser reduzidos tão cedo

14 de dezembro de 2007 10:41

Um dia depois de divulgados números que mostram que a economia está crescendo num ritmo acima do esperado, o Banco Central voltou a indicar que, justamente por causa dessa aceleração, os juros não devem voltar a cair tão cedo. Segundo a autoridade monetária, a preocupação está na pressão que esse crescimento pode gerar sobre a inflação.

A avaliação está na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, na semana passada, decidiu manter a taxa Selic em 11,25% ao ano até o próximo encontro, marcado para daqui a cinco semanas. Segundo o documento, divulgado ontem, “os dados referentes à atividade econômica indicam que o ritmo de expansão da demanda continua bastante robusto, podendo elevar sensivelmente a probabilidade de observarmos pressões significativas sobre a inflação no curto prazo”.
Anteontem, dados anunciados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que a economia brasileira cresceu mais do que o previsto no terceiro trimestre (5,7% ante mesmo período de 2006), e muitos analistas aproveitaram a oportunidade para rever para cima as suas projeções para a expansão de 2007.
Para o Banco Central, a expansão do crédito e a recuperação dos salários ajudam a explicar essa aceleração do nível de atividade. Além disso, o próprio corte nos juros realizado até setembro passado -num período de dois anos, a taxa Selic foi reduzida em 8,5 pontos percentuais- e os maiores gastos do governo devem ajudar a sustentar esse crescimento.

Nesse cenário, o risco para a inflação estaria na possibilidade de a produção das empresas não acompanhar o aumento do consumo resultante dessa fase positiva da economia. Quando a procura por mercadorias supera a oferta, o resultado costuma ser mais inflação.

Pausa
Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o conteúdo da ata do Copom reforça a idéia de que os juros devem demorar para voltar a cair. “O BC deve ficar parado por um tempo. Acredito que uma redução não aconteça antes de um prazo entre três e seis meses”, afirma.

Embora reconheça que fatores como a alta dos preços dos alimentos e a aceleração do crescimento econômico elevem o risco de alta da inflação, Thadeu Filho ressalta também que a queda do dólar favorece a estabilidade dos preços.
“Em alguns setores, há mais dificuldade em reajustar preços por causa da concorrência oferecida pelas importações”, diz.

O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, diz que, devido ao cenário traçado pela ata do Copom, o mais provável é que os juros fiquem inalterados durante todo o ano que vem. Novas quedas, portanto, só voltariam a ser discutidas a partir de 2009. “As pressões inflacionárias, que eram pontuais, já começam a se mostrar mais duradouras. Há pouco espaço de manobra para o BC”, afirma Salomon.

Carlos Cintra, gerente de renda fixa do Banco Prosper, diz concordar que os juros não devem voltar a cair no curto prazo. Para ele, o BC evita, na ata do Copom, comprometer-se com qualquer tendência futura para a Selic. “A ata não é muito esclarecedora. Acho que nem o BC sabe quando será o momento de fazer alguma mudança na política [monetária]. Temos que esperar para ver.”