Justiça convoca militares para depor

24 de setembro de 2007 10:40

A partir desta semana, com base num relatório que está sendo elaborado pelo Advogado-Geral da União, José Antônio Dias Toffoli, os ministros da Defesa, Nelson Jobim, da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, vão definir a estratégia para a investigação. Os três se reuniram na última quinta-feira para discutir qual a estratégia que será adotada para não melindrar ainda mais a área militar, que se sentiu ofendida com o discurso de Jobim durante o lançamento, no mês passado, do livro Direito à Memória e à Verdade. Preferiram discrição sobre as medidas que serão tomadas. A AGU não vai mais recorrer contra o mérito da sentença, que determina o cumprimento das investigações em 120 dias. A superação do imbróglio jurídico agradou familiares e ex-guerrilheiros. “Depois de tantos anos, a decisão traz esperança para que os mortos sejam finalmente enterrados”, diz a dentista Lúcia Regina de Souza Martins, que esteve no Araguaia como militante do PCdoB e deixou a região no início do conflito.

Lúcia Regina era casada com o engenheiro Lúcio Petit, morto no Araguaia junto com o irmão, Jaime Petit, e uma irmã, Maria Lucia Petit, única guerrilheira do PCdoB localizada, identificada e devolvida à família. Hoje professora de odontologia da Universidade de Taubaté, no interior de São Paulo, Lúcia Regina lembra que a mãe de seu ex-companheiro, Julieta Petit, morreu sem realizar o sonho de enterrar os filhos. “Espero que desta vez, dentro da lei, seja possível se chegar a um resultado”, disse.

A localização das ossadas dos desaparecidos políticos do Araguaia é um dos grandes desafios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo primeiro escalão é formado por ex-guerrilheiros, entre eles, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que integra o grupo palaciano encarregado de discutir uma alternativa para o caso. O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, sugeriu até que os militares da Aeronáutica, Marinha e Exército que participaram do conflito sejam ouvidos através de um acordo costurado a partir do Ministério da Defesa. Mas as resistências partem de setores do governo, que não querem agravar os atritos com os militares

Depois do discurso de Jobim – dizendo que haveria resposta a quem reagisse ao livro Direito à Memória e à Verdade – e da contrariedade do Exército em colaborar com a Polícia Federal na operação de retirada da população branca da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o governo foi desaconselhado a enfrentar as resistências na área militar para evitar o agravamento da crise.