Máfia da Saúde é suspeita

5 de setembro de 2007 11:05

As hipóteses para o atentado, porém, já são quatro. A quantidade de potenciais inimigos colecionada pelo delegado-adjunto da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS) nos últimos tempos dificulta a ação da polícia na elucidação do atentado que quase matou o policial na tarde de domingo, em Copacabana. Pela manhã, a polícia trabalhava com seis linhas de investigação. Ao fim do dia, já eram quatro. No entanto, o quebra-cabeça continua complicado de ser montado.

A polícia já não tem dúvidas de que Alexandre Neto foi vítima de uma tentativa de execução. O delegado estava em frente a sua casa, pegando algum objeto no Gol descaracterizado da DAS, quando um carro de cor prata se aproximou e um de seus ocupantes efetuou oito tiros de pistola 380 – de uso exclusivo da polícia – contra Neto. Seis disparos atingiram o delegado, que se protegeu dentro do carro como pôde. Por sorte, nenhum dos tiros atingiu órgãos vitais, o que salvou a vida do policial.

A dúvida é qual dos problemas arrumados pelo delegado da DAS motivou o atentado. Uma novidade surgida ontem pode mudar o rumo das investigações.

As denúncias de Neto contra policiais envolvidos na máfia dos caça-níqueis também seguem como uma das linhas de investigação mais fortes. Como informou o JB ontem, Alexandre Neto funciona hoje como fonte de informações sobre a banda podre da polícia para investigações conduzidas pela Polícia Federal.

As outras duas possibilidades analisadas pela polícia envolvem a participação de policiais militares no caso. Um grupo de PMs estaria por trás de um seqüestro sofrido pelo chefe do tráfico na Mangueira, o Tuchinha, no início do ano. Alexandre Neto estava investigando o caso. A outra possibilidade, mais remota, envolve PMs acusados de envolvimento com o jogo do bicho e que correm o risco de serem expulsos da corporação por causa de uma denúncia de Neto. Eles foram responsáveis pela prisão do próprio Alexandre Neto, em fevereiro do ano passado, por desacato a autoridade.

– Todos aqueles que foram objeto de denúncia do delegado serão investigados – afirmou o titular da Delegacia de Homicídios (DH), Roberto Cardoso.

Os policiais da DH, oficialmente responsáveis pelas investigações, passaram o dia na rua, ontem, atrás de pistas para solucionar o caso. Uma nova perícia no carro em que Alexandre Neto estava foi feita. As imagens gravadas pelos circuitos internos de prédios vizinhos ao local do atentado também foram recolhidas pelos investigadores.

As delegacias da Zona Sul também vão ajudar nas investigações. Até a Polícia Federal decidiu entrar na investigação, para apurar se houve coação de testemunha, já que Alexandre Neto depôs em processo referente à Operação Furacão, em que, mais uma vez, acusa policiais de envolvimento na exploração ilegal de jogos de azar.

Internado no Hospital Quinta DOr, em São Cristóvão, o delegado da Anti-Seqüestro continua sob proteção intensa da polícia, assim como sua família. Na porta de seu quarto, seis policiais, com colete à prova de balas, fazem escolta permanente. O delegado corre sério risco de perder dedos da mão direita, atingida por um dos disparos.

– A lesão foi, principalmente na palma e no terceiro dedo. Não sabemos se vamos conseguir preservar todos os dedos. O objetivo é preservar a função da mão – disse o diretor do hospital, Rodrigo Gavina.

Inspetor que aparece em escuta foi transferido para DAS

Um relatório do setor de inteligência da Polícia Federal, anexado a processo em curso na 4ª Vara Federal Criminal no último dia 16 de julho, questiona a transferência do policial civil Hélio Machado da Conceição, o Helinho, para a carceragem da Delegacia Anti-Seqüestro (DAS), onde está lotado o delegado Alexandre Neto. Helinho, preso em dezembro na Operação Gladiador, da PF, acusado de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, estava detido no Ponto Zero, em Benfica. Ele foi o interlocutor da deputada federal Marina Maggessi na conversa telefônica captada em escuta da PF em dezembro, quando a morte de Neto é cogitada.

O documento da Polícia Federal, assinado pelo chefe do setor de inteligência da Superintendência da PF no Rio, Wellington Silva, diz que a transferência é benéfica para os interesses de Helinho, já que “teria a comodidade de estar numa delegacia em que o titular, Fernando Moraes, é uma pessoa com quem tem excelente relacionamento”. Moraes não foi localizado pelo JB na noite de ontem para comentar sua relação com Helinho.

O delegado-titular da DAS admitiu a proximidade com Helinho em depoimento ao juiz Flávio Oliveira Lucas, no último dia 7 de agosto. Ele foi convocado por Helinho para ser uma de suas testemunhas de defesa. No depoimento, Fernando Moraes disse desconhecer qualquer fato que desabone a conduta de Helinho. Segundo o delegado, eles se conheceram em 1998, na própria DAS, e a relação entre os dois era próxima a ponto de um ir à casa do outro. No depoimento, Moraes diz que Hélio “mostrou-se um policial de extrema confiabilidade, sendo bastante atuante”.

O titular da Anti-Seqüestro afirma, ainda, que Helinho “praticamente chefiou” uma das maiores operações policiais que ele participou na carreira: a ação que culminou na morte do então chefe do tráfico na Rocinha, o Bem-te-vi, em 2005.

O relatório da PF cita, ainda, dados de investigações da Operação Gladiador, em que ficou constatado que Helinho contribuiu financeiramente para a campanha eleitoral fracassada de Fernando Moraes para a Alerj, no ano passado. Segundo o documento, “não se vislumbra, pelo apurado até o momento, a oportunidade e a conveniência que teriam motivado tal ato (de transferência)”.