Mapa da propina
As operações da Polícia Federal realizadas nos últimos quatro anos mostram uma mudança do perfil do corrupto e dos corruptores na administração pública. Revelam que, para cada tipo de atividade, há um preço, seja ele pago em dinheiro, favores pessoais e até financiamento de campanhas eleitorais. Por outro lado, as escutas telefônicas feitas pela PF durante as investigações também reproduzem negociações em que milhares de reais pagos como propina são tratados como se fossem moedas de valor irrisório.
Nos últimos anos, os recursos roubados dos cofres da União nem sempre foram utilizados em aquisição de imóveis, como acontecia com freqüência, mas também na compra de obras de arte e em aplicações bancárias. Esta última modalidade quase foi abandonada, mas se tornará corriqueira, com o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O imposto deixava o rastro da circulação do dinheiro. Era uma ferramenta importante, afirma o delegado Paulo Tarso Teixeira, da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal (Defin). Agora, segundo ele, apenas as movimentações atípicas e acima de R$ 10 mil poderão ajudar na localização do dinheiro.
As investigações da PF mostraram, ainda, que grandes empresas que fazem negócios com a administração pública e se utilizam da corrupção para obter vantagens têm como alvo pessoas com cargos de alto escalão, enquanto que firmas prestadoras de serviços e de fornecimento de material de expediente, por exemplo, preferem servidores com cargos intermediários. Nos dois casos, apesar do perfil diferente de cada corruptor, existe uma semelhança: dificilmente se utilizam de funcionários de carreira com chances de ascender a um cargo ou prestes a se aposentar. Esse tipo de servidor dificilmente se corrompe para não arriscar o que já conquistou ou conquistará no futuro, diz um delegado da Polícia Federal, revelando que existem exceções. Em Minas Gerais, fiscais da Receita, prestes a se aposentar, foram presos acusados de envolvimento com corruptos, acrescenta o delegado.
Segundo policiais que atuam nesse tipo de investigação, quem faz o preço é o corrupto. Quanto maior o negócio e as chances de prosperar, melhor será o valor pago aos corruptos. Há inclusive pessoas que ajudam um servidor a comprar um carro, como já aconteceu em nossas operações. O funcionário acha que isso não é corrupção e, com certeza, ele ajuda o corruptor de alguma forma, observa um delegado que atuou na Operação Vampiro, que desvendou um esquema de fraudes em licitações do Ministério da Saúde, envolvendo pessoas de todos os níveis hierárquicos da pasta.