Militares são presos por tráfico
A Superintendência da PF em Brasília investigava o grupo há dois meses. “Quando tivemos a informação que eles estavam a caminho, preparamos a prisão”, contou a delegada Valquíria Souza Teixeira de Andrade, superintendente da PF. Os policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) monitoravam os dois traficantes que traziam drogas da Bolívia para o Brasil pela fronteira com Rondônia. Segundo o delegado João Quirino Florio, chefe da DRE, Antônio Dionízio Guerra, o Galego, e Paulo Sérgio da Silva, o Chocolate, compravam a cocaína na cidade boliviana de Iguaiará-Mirim. Na última semana, os agentes federais receberam a informação que a dupla viria para a capital no sábado.
Eles chegaram no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em um vôo da Gol, às 6h de sábado. Sentaram em fileiras diferentes e agiram o tempo todo como não se conhecessem. Quando desembarcaram, já eram monitorados por policiais. Galego e Chocolate não conversaram no momento de pegar a bagagem. Só se encontraram na hora de pegar o táxi. Do aeroporto, seguiram para Taguatinga, onde se hospedaram em um hotel. Segundo o delegado da PF, a dupla usava sempre o mesmo estabelecimento para dormir e fazer contatos.
Galego e Chocolate passaram o dia no quarto. Enquanto isso, o agentes da DRE faziam campana do lado de fora do hotel, esperando o melhor momento para a prisão. Por volta das 20h, os traficantes saíram de Taguatinga em direção ao Parkshopping. Foram com Osmar Marcelino Lacerda, o Manquinho, que mora na cidade e distribui drogas em todo o DF, segundo os investigadores. Os três pararam no estacionamento do shopping, onde encontraram com os dois cabos do 6º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército, situado em Guajará-Mirim (RO). Do outro lado da fronteira fica Iguaiará-Mirim.
Carteiradas. Os cabos Edmílson Soares de Carvalho e Nilton Dourado Pereira transportaram os 17,280kg de cocaína em embalagens plásticas, dentro do tanque de combustível do Astra de Carvalho, com placas de Porto Velho (RO). Eles receberam R$ 11 mil para transportar a droga até Brasília. Chegando aqui, iriam repassar o entorpecente aos três traficantes. Os cabos passaram de carro por quatro barreiras policiais, mas, como apresentavam as carteiras de militares, não foram revistados.
A droga, misturada a outros produtos, renderia até 45kg de cocaína. Essa quantidade é suficiente para produzir 675kg de merla. Quando iam fazer a entrega, os cabos foram presos pelos policiais. A suspeita inicial era de que Galego e Chocolate estivessem com a droga. Do total apreendido, 8kg eram de Manquinho, que usaria para pagar dívidas e distribuiria o resto para pequenos traficantes. Os 9,280kg restantes seriam distribuídos pelo DF.
Desconfiança. Para encontrar a droga, os policiais revistaram o carro de Carvalho e o Kadett de Manquinho, com placas JEG 1877 (DF), por aproximadamente duas horas. Após acharem no Astra uma lista com pequenos valores gastos com combustível, os agentes desconfiaram que a droga estava no tanque de gasolina. Ao desmontarem o veículo, encontraram o entorpecente. “Carvalho anotou todos os valores gastos com combustível durante a viagem. Eles eram muito pequenos, o que gerou a desconfiança”, afirmou o chefe da DRE.
O grupo acabou preso em flagrante e vai responder por dois crimes: tráfico de drogas e associação ao tráfico, que, somadas as penas, pode levar até 25 anos de cadeia. Os dois cabos, além de responder na Justiça Civil, vão enfrentar um inquérito policial militar, podendo ser expulsos da corporação. Carvalho e Pereira estão presos no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília. Os outros três permanecem na carceragem da Superintendência da PF, no Setor Policial Sul. “O problema é que eles podem sair em pouco tempo, já que foi permitida a regressão da punição de crimes hediondos”, lamentou o delegado.