Ministério Público mapeia corrupção em Dourados

19 de outubro de 2010 10:06

O Ministério Público Estadual do Mato Grosso do Sul (MPE-MS) informou nesta terça que a empresa Financial Ambiental que coleta o lixo em Dourados, capital, foi favorecida no processo de licitação e pelo contrato de R$ 1,4 milhão pago por mês. De acordo com o MPE, o dinheiro era fatiado em R$ 200 mil mensais em propina.

Esse dinheiro – conforme o MPE – era dividido entre o prefeito de Dourados, Ari Artuzi, secretários municipais e vereadores da cidade. O transporte, segundo a Polícia Federal (PF), era feito pelo carro-forte da rede de supermercados Comper e Forte Atacadista. Segundo a denúncia do MPE, a estimativa é de que os desvios cheguem a R$ 700 mil mensais.

Mas o levantamento ainda não foi concluído pelos técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria Geral da União (CGU). O jornalista Eleandro Passaia foi quem denunciou o suposto esquema criminoso. Por meio de grampos e das conversas filmadas, ele filmou empreiteiros, prestadores de serviços e políticos.

Dessa forma, a PF identificou ramificações da rede de corrupção nas Secretarias Municipais de Dourados. O inquérito de mais de quatro mil páginas da PF – resultante da Operação Uragano – foi entregue à Justiça. Pelo envolvimento por fraudes em licitações e pagamento de propinas no segundo maior município de MS, a polícia indiciou 60 pessoas e prendeu 28, dos quais nove continuam atrás das grades.

Presos

Continuam presos, o sócio majoritário do grupo Financial, empresário Antônio Fernando de Araújo Garcia; o prefeito afastado Ari Artuzi; o vice-prefeito afastado Carlinhos Cantor (PR); a ex-primeira dama Maria Artuzi e o secretário afastado de Serviços Urbanos Marcelo Hall.

Também continuam atrás das grandes o presidente afastado da Câmara Municipal, Sidlei Alves, os vereadores Humberto Teixeira Júnior e Edvaldo Moreira. Todos foram afastados de seus cargos temporariamente, mas ainda recebem os salários integrais.

Sobre a denúncia feita hoje pelo MPE, relativa ao envolvimento no pagamento de propina, o engenheiro da construtora Financial, Carlos Roberto Felipe, foi procurado, mas não retornou a ligação. O empresário Antônio Fernando de Araújo Garcia, da Financial Construtora, não foi encontrado pela reportagem do iG.

Gravações ilegais

O advogado do prefeito afastado Ari Artuzi, Carlos Marques negou o suposto envolvimento. "Meu cliente nega todas as acusações, todas as gravações feitas são ilegais. Quem fazia todos os pagamentos não foi indiciado, isso ainda tem que ser esclarecido.” Marques afirmou ainda que “não há nenhum documento que prove qualquer desvio de recursos públicos do município."

E José Vanderlei, advogado do vice-prefeito afastado Carlinhos Cantor (PR), afirma que seu cliente não tem ciência de nada que ocorreu em Dourados. “Ele está sendo cerceado dos direitos constitucionais, ele esta afastado do cargo, tem residência fixa, as provas foram colhidas então não há motivos para prisão," assegurou o advogado.

Suspeita infundada

A Rede de Supermercados Comper, que também controla o Forte Atacadista, reagiu com indignação diante a inclusão, por parte do MPE, do nome das duas empresas num suposto esquema de corrupção investigado pela PF, onde aparecem nomes de autoridades de Dourados e da empresa responsável pela coleta de lixo na cidade.

João Pereira, diretor de marketing da Rede de Supermercados Comper, contestou o fato de o MPE ter incluindo o nome da empresa. “A suspeita é infundada de que um carro-forte da empresa usado para coleta da receita diária das lojas foi empregado para distribuir R$ 200 mil em propina.”

João Pereira assegurou que “a empresa não tem esse tipo de veículo, usa os serviços de uma empresa especializada, que executa o mesmo trabalho para bancos e outros estabelecimentos comerciais.” O executivo garante que a empresa não foi convocada pela PF para prestar esclarecimento no inquérito.

“Se de fato, o nome do Comper Supermercado e Forte Atacadista foram mencionados no relatório conclusivo das investigações, naturalmente a empresa teria de seria ouvida diante das acusações,” acrescentou.

Sem vínculo

João Pereira lembra que o grupo empresarial não tem vínculo comercial como fornecedora da Prefeitura ou da Câmara de Dourados, cidade onde ainda sequer abriu uma loja da sua rede. Para o diretor, a acusação é um “absurdo” porque envolve o nome da empresa, líder no mercado regional, responsável pela geração de impostos e de milhares de empregos.

Ainda segundo João Pereira, a rede possui um patrimônio de credibilidade construído ao longo de tantos anos de atuação em Campo Grande e em cidades de vários estados do Centro-Oeste, interior de São Paulo e Santa Catarina.

O grupo Financial atua no Estado com quatro empresas: a Construtora Financial, Financial Mineradora, a Imobiliária Financial e Financial Ambiental, que é responsável pela coleta e destinação do lixo de algumas cidades do Estado, lembrou João Pereira.

Fonte: Último Segundo