Ministro: procurador sofre pressão política

3 de outubro de 2007 11:04

“Dir-se-ia, senhor procurador-geral, que pretendem colocar-lhe uma faca no pescoço”, diz um dos trechos da defesa prévia, documento encaminhado ao procurador, redigido pelo advogado do ministro, Arnaldo Malheiros Filho. Mares Guia lembra que 162 páginas das 172 do relatório não citam seu nome e nem o de sua empresa, a Samos Participações Ltda, como uma evidência de que sua participação no esquema não foi relevante. Segundo o ministro, o fato de o delegado encerrar a investigação pedindo quatro “diligências restantes” também é o reconhecimento de que o inquérito não foi maduro o suficiente para amparar a denúncia. “A despeito disso, pessoas interessadas na manipulação política das apurações têm exercido inusitada pressão para que a denúncia (…) aos olhos da Polícia Federal surja logo, e para tanto não hesitam em atribuir a Vossa Excelência frases e atitudes totalmente incompatíveis com sua correção e dignidade”. O ministro e a Samos são citados, no entanto, em 10 páginas do relatório.

Mares Guia afirma que trabalhou pela reeleição de Azeredo em 1998, mas sustenta que atuou distante do núcleo da campanha, que coube ao empresário Cláudio Mourão. Segundo Mares Guia, a afirmação de que teria tido papel central se sustenta numa declaração dúbia do ex-candidato a vice-governador que se refere ao “núcleo de poder” na coordenação de Azeredo como “sendo praticamente o mesmo núcleo de campanha”. Diz que em determinado trecho do relatório o delegado Zampronha o confunde com o candidato a vice, que era o ex-deputado Clésio Andrade, corrigindo a afirmação quando trata de estimativas de gastos. O ministro admite que ajudou na campanha de Azeredo e depois, quando este enfrentou uma ação de ressarcimento movida pelo seu ex-coordenador, Cláudio Mourão, emprestou o dinheiro para a quitação da dívida. Não entra em detalhes, mas chama Nilton Monteiro de larápio e lembra que a única referência ao lobista feita pelo delegado foi chamá-lo de “controverso”. Atribui a um delírio e “cinismo tosco” de Monteiro os cálculos que estimam em cerca de R$ 24,5 milhões que teria arrecadado para a campanha.

Engenheiro atento a cálculos e empresário bem sucedido, Mares Guia disse que participou da campanha porque pertencia ao esquema político encabeçado à época pelo candidato tucano e era considerado avis rara num meio político onde essa prática não é usual. Por essa razão teria feito os rascunhos que, segundo a polícia, são indícios de que teria listado despesas e políticos que receberiam dinheiro, em 1998. Ele só admite que em relação à campanha, depois de ter sido eleito deputado federal, juntou-se ao grupo para ajudar Azeredo, participando do núcleo de conversas e, nessa condição, “opinou, estimou, avaliou, mas nada concretamente planejou ou executou”.

Negou que tenha articulado a participação, na campanha, do publicitário Duda Mendonça, que recebeu de Azeredo R$ 4,5 milhões repassados pelo publicitário Marcos Valério. O ministro diz que foi portador da carta encaminhada pela sócia de Duda, Zilmar Fernandes, apenas porque os conhecia e não por exercer papel no núcleo de coordenação da campanha.