Mudanças na investigação

26 de setembro de 2007 11:29

O ataque a tiros ao repórter ocorreu em um bar na Cidade Ocidental: Polícia Federal descartou possibilidade de assalto, como chegou a ser cogitado por PMs de Goiás

José Luiz restringiu o acesso às informações sobre o atentado

A Polícia Civil do Distrito Federal encaminhou ontem o resultado das investigações sobre o atentado contra o repórter Amaury Ribeiro Jr. aos policiais goianos. A Divisão de Inteligência Policial (Dipo) do Departamento de Atividades Especiais (Depate), que atuava no levantamento de informações sobre o crime, conseguiu identificar os quatro envolvidos no crime o autor dos disparos e os outros três responsáveis pela proteção no momento da fuga do local do ataque, um bar no Setor Colina Verde, na Cidade Ocidental (GO).

Pelo fato de o crime ter ocorrido em Goiás, os policiais brasilienses não podiam instaurar um inquérito e fazer uma investigação formal. Por conta disso, a direção geral da corporação destacou a Dipo para colaborar com os investigadores de Cidade Ocidental (GO) no levantamento de informações. Mesmo com as limitações burocráticas, os agentes conseguiram chegar à identidade dos envolvidos. A única maneira de fazer uma investigação formal seria com autorização judicial no DF e em Goiás. O trâmite, entretanto, pode demorar.

Já o primeiro dia útil após a troca de comando na investigação do atentado contra o jornalista revelou alterações na condução o caso. Desde o afastamento, na sexta-feira, da titular da Delegacia da Cidade Ocidental, Adriana Fernandes de Carvalho, as informações sobre o inquérito se concentram em Luziânia (GO). O delegado-chefe da 5ª Regional (Luziânia), José Luis Martins Araújo, passou a aceitar a hipótese de tentativa de homicídio contra o repórter, mas restringiu ao máximo a divulgação de dados sobre as ações policiais. Não houve avanço significativo nas investigações hoje, mas as diligências continuam e estamos nos empenhando para prender logo os suspeitos , resumiu.

A mudança na investigação fez com que a rotina de atendimentos no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), de Cidade Ocidental, voltasse ao normal. A procura de ontem pouco lembrou os movimentos intensos de carros de polícia e de depoimentos registrados na semana passada. Até a ação da Polícia Militar diminuiu. Os bloqueios montados na entrada da cidade e nos bairros mais afastados não foram visto durante todo o dia. Continuaram, porém, os trabalhos realizados pelas equipes de inteligência de policiais civis e militares goianos.

DNA
As investigações da Polícia Federal em torno do atentado contra o repórter podem ficar comprometidas por causa da falta de indícios no local do crime ocorrido na semana passada. Os agentes federais estiveram no fim da semana no bar onde o jornalista acabou baleado, mas nada recolheram. Até mesmo uma camiseta usada pelo jornalista, e que poderia ter material genético do criminoso, foi lavada pela dona do estabelecimento.

A PF praticamente descartou a possibilidade de assalto, como chegou a ser aventado por policiais de Goiás. Pela forma como aconteceu, e como relatou o jornalista, é improvável que ele tenha levado um tiro em uma tentativa de assalto , afirmou um policial federal envolvido nas investigações. Na semana passada, além dos agentes que estiveram no local do crime, policiais da área de inteligência da PF iniciaram a investigação baseada na série de reportagens publicadas pelo Correio, apuradas por Amaury. Será um eixo para nossa apuração , confirmou a superintendente da Polícia Federal no DF, Valquiria Souza Teixeira de Andrade. A PF também ouviu outras testemunhas que confirmaram o atentado.

Uma das linhas de investigação da PF será em torno de possíveis materiais genéticos deixados pelo criminoso que se atracou com o repórter. A camiseta, que o jornalista usava e que ele deixou no local, foi lavada. Perdemos, com isso, um bom material onde poderíamos fazer exames periciais. Mesmo assim, estamos tentando coletar outras provas para podermos fazer testes de DNA, por exemplo , explicou o policial.

Para que a PF pudesse entrar na investigação, o governador José Roberto Arruda (DEM) citou a existência de tráfico internacional de drogas. A própria Polícia Federal havia encontrado indícios que isso estava acontecendo, já que a maior parte das apreensões feita nos últimos dois anos ocorreu no Entorno. Essa também será uma das linhas de apuração que poderá chegar ao autor do disparo que feriu o jornalista. Amaury deverá ser ouvido novamente pela PF em data a ser definida. Na semana passada, o repórter deu um depoimento informal ao delegado Eduardo Gama, da área de Crimes Contra o Patrimônio da PF.

Desde a última semana, Gama tem conversado com as polícias de Goiás e Brasília para levantar mais informações relacionadas não apenas ao crime, mas também em torno do tráfico de drogas. No entanto, a PF continua descartando a realização de operações, já que pretende trabalhar mais na área de inteligência. Como está prevista a entrada da Força Nacional de Segurança no Entorno, preferimos usar outro tipo de trabalho, considerado fundamental nestes casos, que é o setor de informações , contou uma fonte da PF.

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Morte no Entorno
Lentidão que revolta

Afonso Morais
Da equipe do Correio
Kleber Lima/CB

A mãe, que pede para não ser identificada, mostra a foto de Tiago, morto em maio de 2006 em Luziânia: morosidade irrita família

O assassinato de dois jovens em maio do ano passado chocou os moradores de Luziânia. O universitário Tiago de Resende Ávila, 22 anos, e Jussara Sabrina Amorim, 17, foram executados a tiros em Serrinha, bairro próximo ao fórum da cidade. Apesar da violência, porém, o crime não foi solucionado até hoje. A Polícia Civil de Goiás justifica a morosidade pela falta de infra-estrutura e de pessoal para atender o grande número de ocorrências no Entorno do Distrito Federal. A mãe de Tiago acusa a polícia goiana de sempre tratar os homicídios como latrocínios na região.

Segundo a mãe de Tiago, que pede para não ser identificada, os dois jovens teriam sido executados enquanto conversavam dentro do carro dele por um adolescente, que na época tinha 17 anos. Dois dias depois, o rapaz foi preso e confessou o crime. Hoje, aos 18 anos, cumpre pena de três anos por dano ao patrimônio público, delitos cometidos depois de alcançar a maioridade. Apesar da confissão, a mãe do universitário não acredita que o acusado tenha sido o mentor do crime. Para ela, o filho foi assassinado a mando do parceiro de Jussara. Ele esteve lá, mas não era o único no local. Também não entendo porque o processo esteja demorando tanto para ser concluído , diz a mãe do universitário.

Revoltada com a lentidão da polícia, ela mesma começou a investigar o caso e descobriu o paradeiro de dois rapazes que delataram o suposto autor dos disparos. Depois de muita insistência e mostrar evidências incontestáveis, consegui convencer dois agentes a abordarem a dupla , conta.

Para o delegado Nilteu Chaves, que iniciou a investigação do caso, o comportamento da mãe de Tiago é compreensível. Entendemos a perda dela, mas não podemos tratar o caso com emoção. O inquérito está em andamento , afirma. Chaves confirma que uma outra pessoa teria participado do crime. Acusado de matar mais de 20 pessoas, Gláucio Lopes, 29, conhecido como Pequeno, foi indiciado como co-autor do crime. Ele morreu em Belo Horizonte (MG), no início do ano, em tiroteio com a polícia.