Mulher e irmão de líder comunitário pedem proteção à polícia

10 de setembro de 2007 13:19

O irmão do líder comunitário Jorge da Silva Siqueira Neto, desaparecido desde sexta-feira (7), Cláudio Rodrigues Ferreira, prestou depoimento na tarde de domingo (9) na 40ª DP (Rocha Miranda). Ele revelou que sofreu um seqüestro em abril de 2005 e acusou os mesmos policiais militares que teriam atacado seu irmão. Ele e a mulher de Jorge, Rosilaine Marinho, foram pedir proteção ao delegado Altair Queiroz, responsável pelas investigações.

Ele contou que foi seqüestrado por cinco homens, levado para um cativeiro, espancado e mantido amarrado em um botijão de gás durante quatro dias, disse o delegado. Ele só teria sido libertado depois de pagar R$ 19.625 e dar sua moto para os seis seqüestradores, entre eles o soldado Alexandre Barbosa Batista, do 14º BPM (Bangu), um dos cinco PMs acusados por seu irmão de fazer parte da milícia na favela Kelsons, na Penha, no subúrbio do Rio. O registro da ocorrência teria sido feito na Divisão Anti-Seqüestro (DAS).

Testemunha diz que Jorge “mandava” na favela
Por outro lado, o delegado vai pedir informações à 22ª DP (Penha) sobre o depoimento de um cobrador de transporte alternativo que, após a prisão, em agosto, de cinco PMs que comandariam a milícia no local, teria declarado que Jorge anunciou na comunidade Kelsons que, a partir daquele momento, ele ficaria responsável pelo recolhimento do dinheiro do pedágio das Kombis e dos distribuidores de gás.

Segundo a mesma testemunha, Jorge estaria a serviço do traficante Gilberto Martins Ribeiro, o Mineiro, chefe do tráfico na Cidade Alta, no subúrbio. Cláudio, em seu depoimento no domingo, declarou ao delegado que conhecia Mineiro, mas negou que ele e o irmão teriam envolvimento com o tráfico. Admitiu, no entanto, que recebeu uma ajuda financeira de Mineiro quando se candidatou nas últimas eleições para uma vaga de vereador.

Dossiê juntou denúncias de ameaças
Cláudio apresentou ao delegado Altair Queiroz cópias de vários documentos que fariam parte de um dossiê acusando os policiais militares Alexandre Barbosa Batista, Antonio Souza dos Santos, Jorge Henrique Alves dos Santos, André Luiz Oliveira Lima e Fernando Barcelos de atuarem na milícia na favela Kelsons.

Consta do dossiê, o registro de ocorrência 02272/2007 por ameaça feito por Jorge na 22ª DP (Penha) em 9 de abril. Cinco dias antes ele já havia feito o mesmo comunicado à Corregedoria Geral Unificada e ouvido pelo capitão PM José Maurício Alonso Pinheiro.

Juntou ainda declarações feitas ao delegado Cláudio Armando Ferraz, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) em 12 de julho de 2006. Uma carta com o mesmo teor foi recebida em 28 de maio de 2007 pelo Gabinete do Comando Geral, conforme carimbo, endereçada ao comandante-geral da PM Ubiratan Ângelo. O documento é assinado pela Federação das Associações de favelas do estado do Rio de Janeiro.

Segundo testemunhas, Jorge foi seqüestrado quando estava indo para casa, na sexta-feira (7). Ele foi abordado por cinco homens armados que teriam feito vários disparos e atingido o líder comunitário. Jorge foi levado pelos homens no próprio carro, ainda de acordo com testemunhas.

Bastante assustada, Rosilaine, que passaria a dormir em casa de parentes até receber proteção do governo, disse ao delegado que pode apresentar testemunha que teria visto um carro da PM dando cobertura ao veículo usado pelos seqüestradores de seu marido.

No domingo, ela ainda esteve no Instituto Médico-Legal (IML) para identificar um corpo carbonizado de um homem sem as pernas, os braços e parte do crânio, encontrado no sábado numa vala em Campo Grande, na Zona Oeste. Ela acredita que pode ser o de Jorge, já que o teria reconhecido por um furo que o marido possuía em um dos dentes.