No dia internacional da mulher, delegadas falam das dificuldades enfrentadas no cargo
As mulheres policiais enfrentam o desafio de se adequar a uma profissão que parece ser voltada para homens. No Dia Internacional das Mulheres, a ADPF dá voz às delegadas para comentar os desafios enfrentados e se apresenta como um meio de defesa dos direitos e da presença do talento feminino na Polícia Federal.
Na avaliação da delegada e diretora regional da ADPF/SP, Tania Prado, falta incentivo para que elas invistam na carreira. “O efetivo policial feminino é muito pequeno, poderiam ser pensadas formas de incentivar mais mulheres a prestarem o concurso da PF. Claro que tivemos avanços recentes com as nomeações de superintendentes, porém ainda há colegas que são preteridas por outros mais novos”, pondera.
De acordo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), intitulada “As Mulheres nas Instituições Policiais”, de 2015, apenas 22,7% do quadro da PF é formado por elas.
A falta de incentivo é apontado pela delegada federal Nelbe Ferraz de Freitas como um dos motivos. “Acho que falta encorajamento para fazer o concurso. Por ser tido como uma prova masculina, com alto grau de dificuldade, as mulheres nem se inscrevem”, explica.
Nelbe fala da dificuldade em aliar a vida profissional com a pessoal, mas pondera que ter entidades compromissadas com as delegadas como a ADPF faz a diferença. “Nos últimos anos, conseguimos uma instrução normativa que nos dá uma certa proteção para quando estivermos gestante ou lactante. Foi uma batalha que a ADPF encampou junto com um outro grupo de mulheres e a gente conseguiu ter a regulamentação. Mas, de fato, você precisa ter uma estrutura familiar que te dê essa proteção para você poder sair, fazer plantão e viajar.”
Delegada federal desde que passou no concurso em 2004, Nelbe Ferraz teve sua primeira lotação no Amazonas. Ela já passou por divisões de imigração, produtos químicos, segurança de fronteiras e, atualmente, está no setor de inquéritos especiais por prerrogativa de foro.
Maria do Socorro Santos Nunes Tinoco, delegada federal aposentada, observa como a participação feminina na PF cresceu em relação à época em que ela estava na ativa. “Já temos uma importante conquista. Porque eu sou de uma geração em que o número de mulheres era reduzidíssimo, mínimo mesmo. Hoje, a gente já vê um número crescente”, conta.
Mas a expectativa da delegada aposentada é de que essa quantidade aumente ainda mais. “Precisa ser criada uma política de valorização da mulher. Criar maiores oportunidades para que também tenham acesso a mais cargos na gestão da polícia. Nós percebemos que ainda é bem menor o alcance das mulheres nos cargos mais alto da Polícia Federal”, pontua Maria do Socorro.
Aposentada desde 2014, Maria do Socorro traçou um longo caminho antes de assumir como delegada de Polícia Federal. Ela começou como funcionária administrativa na instituição e galgou até conquistar o sonho de delegada. “Eu tenho muito orgulho da minha carreira na PF porque eu comecei em um cargo pequeno da polícia, como funcionária administrativa, em Belém do Pará. Lá no estado mesmo fiz o concurso para agente. Fui para o Paraná e, em seguida, para o Rio de Janeiro onde passei no concurso para delegada. Posso considerar que minha carreira foi de muita luta, empenho, esforço, dedicação e sucesso”, relembra.
O presidente da ADPF aproveitou a data para homenagear as delegadas e funcionárias que trabalham na sede da associação e na ocasião, falou sobre a responsabilidade da entidade com as mulher policial, principalmente diante de ameaça de direitos com a reforma da previdência.
“Nós trabalhamos numa instituição que é eminentemente masculina e a cada dia fica mais. A dificuldade de entrada de mulheres na Polícia é cada dia maior. E, agora, com a reforma da previdência fica um pouco mais, pois querem que a policial seja a única profissão que não terá direito de idade diferenciada entre homens e mulheres na aposentadoria. Mas a associação também é um meio de luta para que o talento feminino seja cada vez mais presente e que as dificuldades para elas na polícia sejam eliminadas”, afirmou Paiva.