Nova fase da Lava-Jato prende ex-deputados

10 de abril de 2015 14:40

SÃO PAULO, CURITIBA e BRASÍLIA – A Operação Lava-Jato retornou ao local de início das investigações, o Paraná, para abrir uma nova frente de apuração, agora no Ministério da Saúde e na Caixa Econômica Federal. Na operação, foram presos preventivamente três ex-deputados: Luiz Argôlo (SD-BA), Pedro Corrêa (PP-PE) — que, condenado no mensalão, cumpria regime semiaberto— e André Vargas (PT-PR), que teriam sido beneficiados do esquema. Foram detidos provisoriamente: a secretária de Argôlo, Hélia Santos da Hora, Ivan Mernon da Silva Torres, Leon Vargas (irmão de André Vargas) e Ricardo Hoffman, diretor de uma agência de publicidade.

Na 11ª fase da operação, intitulada “A Origem” — nomeada assim por ter voltado ao estado onde as investigações começaram —, foi desarticulado um esquema que desviava dinheiro de contratos de agência de publicidade para políticos. Ricardo Hoffman, dono da agência Borghi/Lowe, tinha contas com a Caixa e Ministério, e supostamente operava esquema semelhante ao do mensalão, com repasses a políticos. A Polícia Federal apreendeu na agência de publicidade Borghi/Lowe, em Brasília, documentos relacionados às faturas dessa empresa, em contratos com o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal e envolvendo também a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil)

Pelo menos cinco produtoras de filme, que teriam pagado duas empresas fantasmas – atribuídas ao envolvidos nessa fase- por prestações de serviço que não existiram também foram alvo de fiscalização. As produtoras foram subcontratadas pela Borghi/Lowe.

Na operação, a PF cumpre 32 ordens judiciais nos estados de Paraná, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Além das prisões, há 16 mandados de busca e apreensão e 9 de condução coercitiva. Também foi decretado o sequestro de um imóvel de alto padrão na cidade de Londrina.

A pontado como laranja de Pedro Corrêa, Ivan Mernon foi preso em Niterói, no Rio de Janeiro. Argôlo e sua secretária, Hélia Santos da Hora, foram detidos em Salvador, ambos em suas casas. A secretária chegou a ir para a sede da Polícia Federal em Salvador, de onde seguiu para o aeroporto para embarcar rumo à Curitiba. Já o ex-deputado, foi levado de sua casa direto para o aeroporto.

A advogada da secretária, Cristiane Costa, afirmou que a prisão de sua cliente foi uma surpresa e, apesar de dizer que desconhece o motivo, ela —que esteve na sede da PF — afirmou que se trata de uma acusação infundada.

A PF prendeu Leon, Vargas em Londrina (PR). O ex-deputado Pedro Corrêa- que cumpre regime semiaberto- está preso em Canhotinho, no Agreste Pernambucano, mas o juiz Sérgio Moro já pediu sua transferência para Curitiba. Hoffman foi preso no Distrito Federal. Com base num mandado de condução coercitiva, a polícia também levou para depor Mônica Maria Souza Cunha e Vera Lúcia Leite

A atual fase tem por objetivo a investigação realizada em diversos inquéritos policiais e a partir da baixa de procedimentos que tramitavam perante o Supremo Tribunal Federal, apurando fatos criminosos atribuídos a três grupos de ex-agentes políticos. Segundo a PF, os crime abrangem organização criminosa, quadrilha ou bando, corrupção ativa, corrupção passiva, fraude a procedimento licitatório, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e tráfico de influência.

Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Durante a Operação, a PF utilizou um dos carros que pertencia ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos delatores do esquema, Paulo Roberto Costa. Os veículos apreendidos na Lava-Jato foram cedidos pela justiça, provisoriamente, à Polícia Federal.

A Range Rover usada na 11ª fase Operação foi peça chave na investigação do escândalo na Petrobras. A justiça identificou a partir do veículo a ligação entre o doleiro Alberto Youssef e o então diretor Paulo Roberto Costa, uma vez que o carro havia sido registrado no endereço do doleiro, mas em nome de Costa.

RELAÇÕES COM O DOLEIRO ALBERTO YOUSSEF

Um dos 40 réus no processo do mensalão, Pedro Corrêa foi condenado em 2013 a sete anos e dois meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e estava em regime semiaberto. Ele é acusado pela Polícia Federal (PF) de "dar sustentação à nomeação e à permanência nos cargos da Petrobras" de diretores e gerentes ligados ao esquema de corrupção.

De acordo com despacho de Moro, mesmo depois de cassado no processo do mensalão, o ex-parlamentar "não perdeu seu poder político, tendo inclusive logrado eleger sua filha Aline Correa para a Câmara dos Deputados". Na delação premiada, Alberto Youssef reporta-se por diversas vezes a Pedro Correa como um dos membros do PP que dava apoio a Paulo Roberto Costa e que, por conseguinte, recebia pagamentos de propina.

 

Moro esclarece que ainda não foi colhida prova documental de todos o repasses de valores efetuados por Alberto Youssef a Pedro Corrêa. Contudo, emais interceptados de conversas entre Youssef e Corrêa mostram supostas transações bancárias que somam ao menos R$ 100 mil. O juiz justificou a prisão de Corrêa afirmando que "a prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 (mensalão) reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando, mais uma vez, a prisão para prevenir risco à ordem pública".

André Vargas, que foi vice-presidente da Câmara, foi cassado em 10 de dezembro de 2014. Vargas foi flagrado em telefonemas com o doleiro Alberto Youssef. O doleiro pagou um voo para que Vargas fosse com sua família para João Pessoa (PB) no início de 2014. Investigações da Operação Lava-Jato mostraram que Vargas teria auxiliado o laboratório Labogem a conseguir uma parceria com o Ministério da Saúde. O laboratório era usado pelo doleiro para o envio ilegal de recursos ao exterior, como já admitiram os proprietários da empresa.

Já Luiz Argôlo, segundo as investigações, recebeu, ao menos, R$ 1,2 milhão do doleiro Alberto Youssef, alvo central da Operação Lava-Jato. O ex-deputado também seria sócio de Youssef na empresa de engenharia Malga. Segundo a polícia, o deputado e o doleiro trocaram 1.411 mensagens num determinado período. A intimidade era tamanha entre os dois que o deputado tinha até um telefone exclusivo só para falar com Youssef com a conta paga pelo doleiro. Ele teria recebido pelo menos R$ 330 mil no esquema. E chegou a culpar a imprensa por não ter sido reeleito. O dinheiro chegou a ser entregue em seu apartamento funcional em Brasília durante o seu exercício como parlamentar.