O caso Petrobras

18 de fevereiro de 2008 10:08

A partir desta semana a Polícia Federal (PF) cobrará explicações da Halliburton sobre supostas falhas no esquema de segurança no transporte de computadores da Petrobras entre a Bacia de Santos (SP) e Macaé (RJ), no fim do mês passado. Após duas semanas de investigações, a PF começou a trabalhar com a hipótese de que o sumiço de computadores com segredos da estatal teria sido facilitado por vazamento de informações sobre a localização e importância dos equipamentos. Os computadores foram extraviados de contêineres da Halliburton, que presta serviços à Petrobras.

– Que houve falha, houve. Tanto que aconteceu o extravio. Será que o transporte de um material tão importante não merecia também medidas especiais de proteção? É isso o que vamos ver – afirmou um dos delegados do caso.

A apuração está na fase preliminar, mas alguns investigadores acreditam que os criminosos sabiam onde estavam os computadores e qual a relevância dos dados que encontrariam ali. As suspeitas serão confrontadas inicialmente com o resultado da perícia de local.

Ainda hoje, o Instituto Nacional de Criminalística (INC) deve apresentar um laudo sobre a área e as prováveis circunstâncias do roubo. A partir daí, a polícia terá uma visão mais clara do crime mas, desde sexta-feira, cresce entre os investigadores a suspeita de golpe contra os interesses da Petrobras.

– A hipótese mais forte até agora, embora seja apenas uma hipótese, é de que se trata de espionagem – disse uma das autoridades que acompanham a investigação do caso.

Estas primeiras impressões já chegaram ao Ministério da Justiça. Na sexta-feira, numa conversa com auxiliares, o ministro da Justiça, Tarso Genro, levantou a suspeita sobre o suposto envolvimento de agentes de governos de outros países no episódio. Para o ministro, “interesses geopolíticos” estariam por trás do sumiço dos computadores com os segredos da Petrobras.

As investigações estão sendo conduzidas pela delegada Carla Dolinski, de Macaé, mas sob a supervisão da cúpula da PF em Brasília. A direção da PF decidiu reforçar a equipe da delegada e acompanhar o inquérito por causa da complexidade do caso e da lentidão da apuração.

Abin investiga se o caso tem relação com outra operação
O sumiço dos computadores foi denunciado por um funcionário da Halliburton em 31 de janeiro, mas o inquérito da PF só foi aberto no dia 7 deste mês. Segundo um policial que acompanha o caso de perto, houve demora na tramitação do aviso do roubo. A delegada Carla Dolinski também teria se atrasado em algumas providências tidas como urgentes.

Para delegados mais experientes, Dolinski deveria ter interrogado todos os funcionários da Halliburton e da Petrobras que sabiam da existência dos computadores ou que eram responsáveis pela guarda dos equipamentos no mesmo dia da abertura do inquérito.

Tudo isso só deve acontecer a partir dessa semana. O serviço de contra-espionagem da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entrou em ação por se tratar de um caso considerado de interesse nacional. Os analistas da Abin tentam descobrir se existe algum vínculo entre o roubo dos computadores e três organizações desarticuladas pela Operação Águas Profundas, em julho de 2007. Relatório reservado da PF acusava três grupos de empresários ligados à Angraporto de fraudar licitações com base em informações privilegiadas. Para a PF, porém, é muito cedo para fazer qualquer relação entre o sumiço dos computadores e os crimes apurados na Águas Profundas.