O “mapa da mina”
Um deles seria João Pedro de Moura, ex-assessor do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, que tinha como alvo o Ministério do Trabalho.
Segundo fontes da PF, a maior parte dos presos durante a operação se negou a dar detalhes sobre o esquema de desvio de recursos, mas revelou outros fatos que estão sendo cruzados com a investigação. No depoimento do coronel reformado do Corpo de Bombeiros Wilson de Barros Consani Junior, ele disse que parte do grupo iria abrir outros escritórios para atuar na intermediação de empréstimos entre o BNDES e prefeituras, principalmente no interior de São Paulo. Em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal, os envolvidos falam sobre uma pequena mina.
Consani confirmou que se tratava dos escritórios, que atuariam em ministérios resolvendo problemas relacionados a projetos de prefeituras que estariam parados. Além disso, segundo o depoimento do militar aposentado, Moura pretendia captar dinheiro do Ministério do Trabalho. Sua meta era criar uma ONG, que atuaria na requalificação de mão-de-obra, com recursos públicos. Hoje, pelo menos quatro instituições ligadas à Força Sindical, atuam neste setor. Algumas delas foram denunciadas pela imprensa no ano passado, o que chamou a atenção da Polícia Federal, durante as investigações da Operação Santa Tereza.
Conversa
Em uma escuta telefônica, Moura se mostrava preocupado, conforme o relatório feito por investigadores. Manuel (o empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, um dos envolvidos nos desvios) conversa com João Pedro. Falam de verbas do BNDES que ainda não foram liberadas, relativo à Praia Grande e Manuel quer marcar reunião para apresentar outros empresários para futuras negociações. João Pedro fala sobre as denúncias publicadas relacionadas ao Codefat, aponta o documento da PF enviado à Justiça.
A Polícia Federal pediu na semana passada a quebra de sigilo bancário do Centro de Atendimento Biopsicossocial Meu Guri, presidido por Elza de Fátima Costa Pereira, mulher de Paulinho da Força. A instituição recebeu R$ 37,5 mil de Moura em abril deste ano. Segundo ela, o dinheiro era uma doação feita pelo ex-assessor de seu marido. Moura teria, conforme Elza, retomado um imóvel que havia dado para o Meu Guri.
Investigadores que atuam no levantamento dos documentos apreendidos acreditam que o grupo utilizava ONGs para movimentar o dinheiro dos desvios. Além do Centro Meu Guri, a PF também encontrou cheques emitidos para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Pesquisa Política, Social e Cultural do Trabalhador Luta e Solidariedade. A instituição está no nome de Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Ele afirmou, por meio de sua assessoria, que não conhecia a entidade investigada.
O serviço de Paulinho
Grampos federais que pegam o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, intrigam os investigadores que participam da Operação Santa Tereza, uma missão conjunta da Polícia Federal com a Procuradoria da República, que apura suposto esquema de fraudes com recursos desviados do BNDES.
São ligações telefônicas, que a PF interceptou com autorização judicial, nas quais o parlamentar fala com o coronel da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Júnior. Suposto operador do esquema e importante personagem nos bastidores do PDT e da Força Sindical, Consani é homem de confiança e araponga de Paulinho.
As escutas mostram que, nos telefonemas, eles conversam sobre um certo serviço do qual Paulinho teria se arrependido, mas não chegam a comentar detalhes do assunto, nem a natureza do tal trabalho. A PF interrogou o coronel em 24 de abril, data em que ele foi capturado. Ao ser indagado sobre o serviço para o deputado, Consani se esquivou e disse apenas que não se lembrava de que haviam falado. Paulinho caiu no grampo muitas vezes porque fez contato ou foi chamado pelo telefone por alguns acusados da Santa Tereza, entre eles o coronel. As conversas foram gravadas pelos federais no auge da operação, entre os meses de março e abril.
Conselho de Ética
O deputado disse ontem que espera uma investigação mais rápida possível por parte da Câmara dos Deputados e garantiu que não tem objeção se seu caso for apurado diretamente pelo Conselho de Ética.
Sou o maior interessado em esclarecer tudo. Não tenho opção pela corregedoria ou pelo conselho. Eu disse no plenário que queria ser investigado. Seja onde for, vou esclarecer que não tenho qualquer envolvimento em qualquer problema, tanto que abri meu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Estou tranqüilo, afirmou.