O risco de ser indiciado

16 de janeiro de 2008 10:57

Considerado o braço financeiro e empresarial da família Sarney, o empresário Fernando Sarney pode ser indiciado por lavagem de dinheiro, crime tributário e contra a ordem financeira no inquérito sobre a movimentação de cerca de R$ 3,5 milhões em contas de suas empresas nos dias que antecederam o segundo turno da eleição de 2006, quando sua irmã Roseana Sarney foi derrotada na disputa pelo governo do Estado.

Desde 2006, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal o investigam por transações financeiras suspeitas, que apontam para a criação de uma factoring exclusiva para negócios da família Sarney. Para o Ministério Público, a factoring pode ter servido para movimentar recursos de caixa 2.

Diferente dos irmãos Roseana e Zequinha, Fernando – o primogênito do senador José Sarney (PMDB-AP) – nunca ocupou cargo eletivo, mas sempre esteve à frente dos negócios e de setores estratégicos do poder no Maranhão. Foi diretor da Companhia Energética do Maranhão (Cemar) e tornou-se um megaempresário no Estado, dono da maior rede de comunicação (que inclui a TV Mirante e o jornal O Estado do Maranhão), de empresas de construção, de imóveis, hotel e outros.

Apesar de não figurar oficialmente como tesoureiro nas campanhas eleitorais dos Sarney, pelo menos três pessoas que trabalharam ao lado dos candidatos da família disseram que era Fernando o responsável pelos pagamentos.

Indícios
O inquérito de que é alvo está em fase final. Além dele, são investigados sua mulher, Teresa Murad, dois contadores da família e dois funcionários do grupo Mirante. O Ministério Público informou que todas as quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico e demais documentos estão sendo cruzados pela PF em Brasília e, depois disso, o inquérito estará pronto para ser relatado. Paralelo a isso, a Receita iniciou uma ação fiscal que vai abranger os últimos cinco anos dos negócios de Fernando Sarney para verificar o montante que pode ter sido sonegado.

O Estado teve acesso a informações do inquérito, que corre sob sigilo e é acompanhado pelos procuradores da República Antonio Cavalcante, José Leite e Juraci Guimarães. O inquérito começou depois que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) comunicou ao Ministério Público um saque feito de uma única vez em dinheiro por Fernando Sarney de sua conta logo antes da eleição.

Em 23 de outubro, o empresário Eduardo de Carvalho Lago, casado com a irmã de Teresa Murad, depositou R$ 2 milhões na conta da Gráfica Escolar, da família Sarney. No dia seguinte, o dinheiro voltou para a conta de Lago e, em seguida, foi para a de Fernando. Seu primeiro saque foi de R$ 1,2 milhão, em 25 de outubro. Outros R$ 800 mil foram retirados no dia 26.

Há outras movimentações acompanhadas pelo Coaf. Entre 27 de setembro e 27 de outubro, mais R$ 1 milhão foi retirado das contas da TV Mirante. Os saques, também em dinheiro vivo, foram feitos pelos funcionários da empresa Carlos Henrique Campos Ferro e Teresa Cristina Ferreira Lopes.

Procurado pelo Estado para comentar a apuração, Fernando Sarney não foi encontrado.

Factoring
No inquérito, o que mais intriga os procuradores é a criação da São Luís Factoring e Fomento Mercantil Ltda. A quebra de seu sigilo bancário mostra que, desde que foi criada, em 2000, a empresa nunca trabalhou com pessoas físicas e jurídicas que não fossem da família Sarney. Para o Ministério Público, o fato de a São Luís Factoring funcionar dentro das empresas da família, não ter placa de identificação nem trabalhar para outras pessoas indica que está sendo usada para finalidade diversa daquela para que foi criada.

Os dados do sigilo mostraram também que a São Luís Factoring pagou R$ 23 milhões em cinco anos de atividade – como o que ela paga é sempre um valor bastante inferior ao que recebe, o Ministério Público quer saber quais valores serão apresentados como justificativa para o desembolso desse total.

A São Luís não é a primeira empresa ligada à família que aparece numa investigação. Sobre a Credita Factoring pesa a acusação de que foi usada no governo de Roseana (1995-2002) para uma operação irregular. A Credita, que é do marido dela, Jorge Murad, teria servido para comprar dívidas que o Estado tinha com credores (incluídas nos restos a pagar) com deságio de quase 70% e depois receber os pagamentos integrais do governo.