Operação Castores

12 de maio de 2008 12:02

No verso de uma das páginas, são citados os nomes da Alstom e da CNO (Construtora Norberto Odebrechet, segundo a polícia).

O documento foi apreendido pela PF em 2006 na casa do então chefe-de-gabinete do senador Raupp, José Roberto Paquier, no curso da Operação Castores. Escutas telefônicas feitas pela polícia confirmaram as suspeitas do delegado Fernando Francischini, que chefiou as investigações. Paquier negociava, por meio de intermediários, com um diretor da Alstom o pagamento de cerca de R$ 300 milhões que a Eletronorte devia à empresa. Num telefonema, os investigados discutem formas de receber as parcelas de R$ 46 milhões que o consórcio esperava receber.

O diretor da Alstom, Osvaldo Panzarini, e o assessor do senador foram presos pela PF e depois liberados. O assessor foi demitido; Panzarini foi promovido na Alstom – passou a ocupar a diretoria de operações. A empresa está sob investigação na França e na Suíça sob suspeita de pagar propina em países como o Brasil, Cingapura e Venezuela. Os promotores daqueles países citam que um dos casos suspeitos envolve o Metrô paulistano – a empresa teria pago US$ 6,8 milhões a políticos para ganhar uma licitação de US$ 45 milhões.

A dívida era controversa. A Alstom havia entregue duas turbinas para a hidrelétrica de Tucuruí que apresentavam problemas. Por causa disso, a Eletronorte decidiu suspender o pagamento. A Alstom integrou com a Odebrechet o consórcio que construiu Tucuruí, uma das obras mais caras da última década -R$ 3,7 bilhões.

Foi nesse momento que entrou em cena o assessor do senador, vendendo facilidades. Numa conversa gravada pela PF, ele diz que pode arrumar nota fiscal de uma consultoria para dar uma aparência legal à propina que a Alstom pagaria.
Esse negócio, aparentemente, foi abortado pelas investigações. Mas a suposta contabilidade apreendida pela PF traz indícios de que outros negócios haviam sido concluídos.

Os documentos citam os seguintes nomes ao lado dos valores: Raupp, Nascimento, “Ademar Paloci” (com a grafia errada), Winter, Hércio e Belém. Carlos Nascimento era o presidente da Eletronorte. Hércio José Ramos Brandão ocupava a diretoria de gestão corporativa da Eletronorte e foi demitido em 2006, após seu nome aparecer na operação da PF.

Winter Coelho, funcionário de carreira da Eletronorte, era o nome que o senador Raupp indicou em 2005 para a diretoria de gestão corporativa. A indicação esbarrou em Dilma Rousseff: ela o vetou por causa dos processos que Winter respondia na Justiça e no TCU (Tribunal de Contas da União).

Em 2005, ele foi condenado pelo TCU a devolver cerca de R$ 3.753 por contas recusadas quando era diretor da Centrais Elétricas de Roraima.
A PF não sabe quem é Belém.

A suspeita é que seria o sobrenome de algum funcionário da estatal de energia elétrica.

Nascimento, Hércio e Winter têm um ponto em comum: eram ligados a Raupp. Nascimento saiu da esfera do senador e passou a orbitar sob a influência de Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, o que lhe custou o cargo -ele deixou a presidência da Eletronorte na última terça-feira.

A suposta contabilidade foi apreendida em maio de 2006, mas até agora não foi objeto de nenhum inquérito específico. A investigação da Operação Castores não visava a Alstom, mas um grupo que aplica golpes em empresas elétricas. Policiais do Paraná dizem que remeteram a documentação para Brasília, com recomendação de que relatórios fossem enviados à Procuradoria Geral da República – o senador tem foro privilegiado. A PF em Brasília diz não ter investigação sobre a Alstom.