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Operação Greenwashing: Prisão do maior vendedor de crédito de carbono do mundo revela fraude ambiental em mais de R$ 919 milhões

27 de agosto de 2024 18:13

A Operação Greenwashing, deflagrada este ano pela Polícia Federal, resultou na prisão de Ricardo Stoppe Júnior, conhecido como o maior vendedor de crédito de carbono do mundo. Stoppe, que se apresentava como um defensor ambiental, foi acusado de grilar terras públicas e explorar ilegalmente madeira em uma área equivalente ao tamanho do Distrito Federal. A operação, a maior do ano, desmascarou um esquema de fraude envolvendo mais de 70 pessoas e resultou na apreensão de bens avaliados em mais de R$ 919 milhões.

A investigação teve início em 2022, motivada por denúncias anônimas de funcionários públicos e empresários da região da Ponta do Abunã. Esta área, situada na tríplice divisa entre Rondônia, Acre e Amazonas, é conhecida por sua vulnerabilidade a crimes ambientais e disputas de terras. A Ponta do Abunã foi identificada como um ponto crítico para fraudes relacionadas à grilagem de terras e outros crimes ambientais.

De acordo com o delegado encarregado da operação, Thiago Marrese Scarpellini, a investigação revelou que as áreas envolvidas eram de domínio público. Documentos fraudulentos facilitavam a apropriação das terras, com a conivência de servidores públicos em diversas instituições, como na Secretaria de Estado das Cidades e Territórios do Estado do Amazonas (SECT-AM), no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e em cartórios do AM.

A operação, que durou dois anos, foi inicialmente conduzida pelo Grupo de Investigação Ambiental Sensível (Giase) da Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente (Damaz), e posteriormente pela Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional de Rondônia (Delinst/RO), com o apoio contínuo da Damaz. Durante esse período, foram analisados mais de 9 mil documentos e elaborados 22 relatórios policiais. A organização criminosa foi responsável pela fraude em mais de 520 mil hectares de terras públicas, com a meta de expandir para 3 milhões de hectares.

Scarpellini afirma que o médico e empresário, Ricardo Stoppe, não era alvo da Polícia Federal anteriormente. No entanto, desde 2009, houve diversas denúncias relacionadas ao caso, resultando na abertura de alguns inquéritos na época.

Enquanto Stoppe mantinha uma falsa imagem de empresário ambientalmente responsável, participando de eventos internacionais e associando-se a projetos de crédito de carbono, como os projetos Fortaleza do Ituxi REDD+ e Unitor REDD+, sua verdadeira atividade era ocultada. Ele se apresentava como um representante na luta contra as mudanças climáticas durante conferências globais, como a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC COP 28), desviando a atenção para suas atividades ilegais.

Foto: Divulgação/PF

O crédito de carbono é um conceito que visa à diminuição dos gases de efeito estufa, responsáveis por provocar diversos problemas ambientais associados às mudanças climáticas. Esses créditos fazem parte de um mecanismo de flexibilização que auxilia os países que possuem metas de redução da emissão de gases poluentes a alcançá-las. Considerados a moeda do chamado mercado de carbono, os créditos de carbono representam a não emissão de dióxido de carbono na atmosfera.

O empresário explorava a complexidade das leis fundiárias e a fragilidade na região amazônica, aliada a dificuldade de acesso as áreas remotas. Permitindo apropriar-se de terras da União e de áreas protegidas, como a Floresta Nacional do Iquiri. Formalizando o domínio por meio de documentos fraudulentos e planos de manejo irregulares. Ele liderava a organização criminosa junto com Élcio Aparecido Moço e José Luiz Capelasso, e seus filhos Ricardo Villares Lot Stoppe e Poliana Capelasso. A estrutura da organização envolvia mais de 70 pessoas físicas e jurídicas, cada uma com papéis específicos.

Thiago Scarpellini explica que as apreensões realizadas abrangem fazendas, imóveis urbanos, aeronaves, embarcações e veículos. Parte dos bens foi solicitado ao uso da Polícia Federal e uma aeronave foi solicitada para a Polícia Civil do estado de Rondônia. Os bens não destinados a órgãos públicos foram solicitados para alienação antecipada, com os valores obtidos revertidos ao Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol).

Atualmente, a operação entrou em uma segunda fase, investigando tentativas dos envolvidos de se desfazer de patrimônio e ocultar bens em nome de terceiros. O delegado confirma que as análises continuam para fechar o escopo da investigação, descobrir novas fraudes e identificar novos integrantes da organização criminosa, com a elaboração de um relatório final.