Operação Rodin: indícios de participação de políticos

19 de dezembro de 2007 11:45

Datado de 2005, o material não só confirma a fraude milionária que envolveu o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) como também revela a ligação de políticos com o esquema criminoso que lesou a autarquia em cerca de R$ 40 milhões.

– Existem políticos citados, existem situações que revelam que pessoas destacadas do cenário político estadual já tinham conhecimento das irregularidades, que podiam ter sido sanadas. Essas irregularidades tinham sido levadas ao conhecimento de importantes personalidades políticas – diz um policial que atua na investigação da fraude.

O material foi apreendido na empresa Rio del Sr, de propriedade de familiares do empresário Lair Ferst, um dos 13 suspeitos presos pela PF na Rodin, no dia 6 de novembro. Os documentos fazem parte de uma troca de farpas entre a Rio del Sr e a Pensant Consultores. As duas empresas foram contratadas para prestar serviços terceirizados à Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec).

Em 2005, em função de um desacerto, cada uma produziu relatórios questionando os serviços prestados pela outra junto à Fatec. Segundo a PF, os documentos acabam por detalhar as circunstâncias da fraude. A Fatec fora contratada pelo Detran, sem licitação, para fazer os testes para obtenção de carteira de motorista. A fundação, no entanto, terceirizou esse serviço para outras empresas, entre elas, a Rio del Sr e a Pensant Consultores.

– Essa ganância dos dois grupos (a provável disputa por mais espaço dentro do esquema) acabou ajudando o trabalho de investigação e colocou em xeque o esquema criminoso. Se tivessem ficado em sintonia maior, teriam feito a coisa de maneira tão hermética que ficaria difícil comprovar. Eles mesmos abriram a caixa-preta. É naqueles pontos que eles revelaram que a nossa perícia vai atuar – salienta outro investigador.

Policiais vão se concentrar no funcionamento da fraude
Os relatórios apontando falhas na prestação de serviços chegaram, segundo a PF, ao conhecimento da Fatec e da direção do Detran, mas não surtiram efeito, já que as empresas da família Ferst (a Rio del Sr e a Newmark Tecnologia) seguiram recebendo pagamento por supostos serviços prestados à Fatec até abril deste ano.

Políticos não devem ser chamados a prestar depoimento nesta fase da investigação.

– Há indícios de que políticos sabiam das irregularidades e não fizeram nada e também de que outros estavam efetivamente envolvidos. Mas não investigamos políticos ou partidos. Queremos esclarecer a fraude do ponto de vista material. Por isso, é mais valioso ouvir técnicos, pessoas que efetivamente estavam imbuídas da tarefa de realizar o trabalho, do que pessoas que têm interesse em confundir a polícia – explica um policial federal.

Mais de 50 pessoas já prestaram depoimento. A expectativa da PF é de que outras sejam ouvidas até a conclusão da investigação. A previsão é de que o trabalho seja concluído até janeiro de 2008.

O que a investigação já revelou
– Em 2005, duas das empresas terceirizadas contratadas pela Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec) produziram relatórios que expunham claramente a fraude no Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

– Autoridades tiveram conhecimento do material, mas não agiram para estancar o esquema.

– A PF constatou que a Fatec priorizava a contratação de pessoas inexperientes (para as áreas de contadoria e setor de pessoal), que pudessem ser facilmente manipuladas e que tivessem dificuldades para compreender as irregularidades que estavam sendo praticadas pelos envolvidos.

– Despesas pessoais de envolvidos na fraude – como dirigentes do Detran e das empresas terceirizadas – eram pagas pelas empresas como forma de favorecer os envolvidos.

– Os policiais constataram ter havido um contrato de mútuo em que a Fatec efetuou empréstimo de dinheiro para a Fundae, relativo ao contrato com o Detran.

– Segundo os dirigentes das fundações, o empréstimo era necessário porque a Fundae, inicialmente, não teria condições técnicas, tampouco recursos, para arcar com as despesas iniciais dos serviços, como deslocamento de examinadores e diárias indenizatórias.

– Para a PF, no entanto, esse empréstimo indica que a passagem do contrato com o Detran da Fatec para a Fundae foi uma operação obscura ainda a ser desvendada.

– Segundo a PF, a justificativa para o negócio seria a manipulação política e os interesses de grupos que passaram a ter maior influência na condução da Fundae, demonstrando que o contrato era lesivo ao erário.