Operação Toque de Midas

15 de julho de 2008 10:41

Por causa dessa decisão, a PF preferiu suspender os pedidos de prisão temporária que estavam sendo preparados e seriam enviados à Justiça Federal contra vários envolvidos. Na operação foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três estados, inclusive na residência e empresas de Eike, no Rio de Janeiro.

Os investigadores suspeitaram que houve vazamento das investigações e a MMX se aproveitou para tentar ter acesso à apuração. Para a PF, se eles tinham conhecimento de que havia uma operação iminente, não haveria mais razão para prendê-los, já que teriam se articulado contra a investida.

Os federais, então, solicitaram à Justiça apenas mandados de busca e apreensão de documentos, computadores e dinheiro que comprovassem indícios da ação de uma organização criminosa que atuou em fraudes de licitação da estrada de ferro que liga o município de Serra do Navio ao Porto de Santana, no Amapá, razão da investigação. Os mandados foram expedidos pelo juiz titular da 1ª Vara Federal do Amapá, Anselmo Gonçalvez da Silva.

Agente teria comentado operação em sala de aula
Para o superintendente da PF em Amapá, Anderson Rui Fontel, a decisão de permitir a Eike acesso ao processo, prejudicou as investigações. Para ele, não havia razão para o TRF concordar com a solicitação:

– Não havia razão para esse pedido ser aceito: não tinha constrangimento contra ninguém, nenhum deles estava preso. É um processo sob segredo de Justiça. Se toda pessoa que se acha suspeita de investigação recorrer para ter acesso aos autos, não tem razão o trabalho de investigação do Ministério Público nem da polícia. Quem perde é a sociedade.

Antes de recorrer ao TRF, os advogados da MMX entraram com uma petição na própria PF de Macapá pedindo acesso aos documentos. Foram ainda à Justiça Federal do Amapá com o mesmo pedido. Ambos foram negados. Na petição, os advogados alegaram que, há dois meses, um agente da PF, que é professor numa faculdade de Direito de Macapá, teria dito numa sala de aula que haveria a operação e que diretores da MMX seriam presos. Uma das alunas presentes era mulher de um diretor e contou ao marido a suposta revelação do professor.

Segundo a PF, o agente teria apenas feito um comentário genérico contra a atuação das mineradoras no Amapá. Há dois meses, a PF ainda não tinha decidido pedir a prisão dos envolvidos e acredita que nenhum agente diria isso publicamente. Os investigadores consideram esse argumento um pretexto e acreditam que houve vazamento de informação de outra forma, o que será apurado internamente.

Na sexta-feira, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão em Macapá. Foram feitas apreensões de documentos e computadores nas residências de Braz Josaphat, auditor fiscal da Receita Federal, lobista e que trabalhou na campanha eleitoral do atual governador Waldez Góes (PDT); Ruben Bemerguy, ex-procurador-geral do Estado; Guaracy Campos Farias, que foi integrante da comissão especial de licitação da estrada de ferro; e também na Secretaria estadual de Planejamento. O secretário à época dos fatos, em 2006, era o hoje deputado federal Jurandil Juarez.