Opinião: Atentado à República

10 de outubro de 2007 11:40

Iniciou-se um levante suprapartidário e o Senado deu o primeiro passo objetivo para dizer chega.

A despeito da contundência das palavras, havia ainda alguma benevolência nas intenções. E, se Renan Calheiros ouvisse e não fosse refém de uma obsessão que em determinados momentos o levou ao ridículo de se imputar a condição de vítima inocente de um linchamento político, teria percebido que lhe era dada ali a última chance de salvar o mandato, caso fizesse o solicitado gesto do afastamento.

Reuniões de líderes foram feitas em diversos gabinetes e, nelas, eram unânimes as opiniões de que a situação bateu no mais fundo do mais profundo fosso em que Renan Calheiros mergulhou o Senado da República.

Falou-se em obstrução de toda e qualquer atividade ou votação na Casa, chegou-se à conclusão de que com Calheiros no cargo não há risco de o ambiente (interno e externo) melhorar, houve bate-boca direto entre ele e seus pares no plenário, pela primeira vez ele foi obrigado a abandonar a pose impertinente de quem se sente no comando do jogo.

Ficou na defensiva, não pôde impedir os apartes, e diferentemente das outras vezes, não conseguiu falar sozinho. Foi contestado à unanimidade, nela incluídos senadores do PT, do PDT, PSD, PMDB, Democratas e PSDB.

Tentou se retirar para não ouvir as contestações, foi obrigado a retornar e, ali, do alto da tribuna de onde cinco meses atrás recebeu cumprimentos de quase todos os senadores, precisou ouvir gravações constrangedoras, reptos veementes à sua saída em nome da instituição e não contou com o apoio de ninguém.

Sua tropa de choque silenciou. Mas ele, teimoso, insistiu em fazer de seu projeto pessoal de defesa um fator de tumulto absoluto em um dos Poderes da República, pois a Câmara também já se contaminou de revolta pela depravação.

Talvez Renan Calheiros não tenha percebido, mas desde ontem se transformou numa ilha. Está sozinho, rodeado de adversários por todos os lados.

Sua insistência em permanecer terá um único e óbvio resultado: a cassação de seu mandato. E não por causa das denúncias que lhe são imputadas, mas por infringir uma cláusula pétrea da Constituição e atentar contra a República.

Dizer e fazer
Calheiros afastou o funcionário Francisco Escórcio até que se apure a denúncia de que ele foi agente da tentativa de se montar uma operação de espionagem contra os senadores Demóstenes Torres e Marconi Perillo.

Agiu de acordo com um parâmetro, que ficou por isso mais evidente que deveria ser o mesmo seguido por ele.

Só afastou o funcionário porque acreditou, assim, aplacar os ânimos do colegiado, mas conseguiu apenas evidenciar a distorção representada por sua permanência no cargo como alvo de quatro representações por quebra de decoro parlamentar.