Opinião: Omissão histórica

26 de setembro de 2007 11:57

Ao contrário do que afirma, não se pode atribuir à capital federal a concentração e a desordem urbana nos 14 municípios do estado vizinho que compõem o Entorno. São efeitos do desleixo na formulação e execução de políticas públicas da competência do governo goiano que, desde sempre, infelicitam a região. Não se vê nenhum traço de ação governamental consistente para socorrer as populações com infra-estruturas saneamento, educação, saúde, lazer, fomento a atividades econômicas.

Salvo os que conseguem trabalho em território do DF, poucos têm acesso a emprego. Braços ociosos vá lá a lição da cultura popular inglesa são a oficina do diabo. Juntem-se os desempregados aos jovens sem horizontes, desocupados, às famílias carentes de sobrevivência digna, às demandas por equipamentos públicos não satisfeitas e estará adensado o caldo de cultura onde fermenta a violência. No caso do Entorno, manifestada na rede de traficantes que subjuga, chantageia, aterroriza, mata inocentes. E se entrega ao extermínio de rivais na disputa pelo domínio do mercado de drogas.

O cenário ainda poderia ser mais catastrófico se a omissão histórica das autoridades goianas não fosse compensada pelos serviços aqui disponíveis. Os habitantes do Entorno vitimados pelo infortúnio social buscam socorro nos hospitais, maternidades, postos de saúde e instituições de auxílio social do DF. Alguns vestígios de movimento econômico na área conflitada se devem, na maior parte, à influência irradiadora de Brasília.

Mas, apesar de freqüentes denúncias de entidades civis, órgãos oficiais de defesa dos direitos humanos e da sucessão cada vez mais intensa de assaltos, seqüestros e assassinatos na região, o governo goiano tem reagido da forma mais canhestra possível. Parece haver acordado para a tragédia diante do clamor nacional que se seguiu à tentativa de assassinato do jornalista Amaury Ribeiro Jr.

Rendeu-se o governante de Goiás à conveniência de requisitar a FNS depois que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tomou a si o encargo de pagar as despesas do contingente federal. Até aqui, ao assumir obrigação do contribuinte goiano, fica explícito que Brasília demonstra mais interesse em resolver os problemas das unidades circunvizinhas do que quem deveria fazê-lo. Resta esperar que, depois da retirada da FNS e encerradas as operações da Polícia Federal, a área liberta das quadrilhas não seja devolvida ao narcotráfico. É o que ocorrerá de forma inelutável se persistir o abandono do Entorno pelas autoridades goianas.