Para delegados, faltam funcionários administrativos na Polícia Federal
Delegados da Polícia Federal ouvidos em levantamento divulgado nesta segunda-feira (23) pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) disseram que a quantidade de servidores na área administrativa da PF é insuficiente. Essa foi a opinião de 96,37% dos delegados entrevistados.
O levantamento, realizado pela própria ADPF, foi feita via internet com 331 delegados dos 26 estados e do Distrito Federal, de junho a julho deste ano. O objetivo era ouvir os profissionais sobre as condições de trabalho, a estrutura física das unidades e os materiais disponíveis para as atividades da corporação.
De acordo com 319 dos delegados entrevistados, não há servidores administrativos suficientes para o apoio às investigações. Na opinião do presidente da associação, Marcos Leôncio Ribeiro, o baixo efetivo gera sobrecarga de trabalho e, consequentemente, altos índices de depressão, alcoolismo e suicídio dentro da corporação.
"Hoje nós temos um efetivo que remonta à década de 1970. O número de inquéritos só aumenta e o nosso efetivo estagnou e não consegue acompanhar o volume de investigações que a Polícia Federal desenvolve", afirmou.
O G1 entrou em contato com a assessoria da Polícia Federal para saber se a corporação vai comentar o levantamento, mas ainda não obteve resposta.
A PF tem, ao todo, cerca de 1,7 mil delegados e 14 mil servidores. A associação alega que, com o atual número de funcionários, a polícia não consegue cuidar das atividades diárias dos 150 mil inquéritos abertos mais a segurança de grandes eventos de forma ideal.
"Nas unidades do interior, nas unidades de fronteira, se eu for descansar não tem ninguém para trabalhar", afirmou o presidente da associação.
Ribeiro criticou ainda o fato de a PF, segundo ele, não ter um programa de acompanhamento psicológico para os funcionários.
Dos delegados entrevistados 58,31% disseram que o suporte médico e psicológico para os funcionários é inexistente. De acordo com 32,32% dos entrevistados, o acompanhamento é insuficiente ou obsoleto. 9,37% disseram que se sentem satisfeitos com o serviço.
As condições para práticas físicas e para prática de tiros foram reprovadas por 75,23% dos delegados. A ADPF alega que o curso de formação do Policial Federal, de quatro meses, não é o ideal e que faltam cursos presenciais de reciclagem.
"A Polícia Federal é muito exigente no ingresso, tanto é que você tem um concurso onde há uma reprovação no ingresso. Mas, depois, ao longo da carreira, você não vê essas mesmas condições sendo exigidas", comentou Ribeiro.
A qualidade e quantidade dos materiais disponíveis para o trabalho diário foram considerados "satisfatórios" por 67,98% dos entrevistados. 51,06% acham o espaço físico adequado, com boa climatização e vias de acesso.
Os resultados da pesquisa serão encaminhados à Direção Geral da PF e ao Ministério da Justiça. A associação quer que o governo encontre soluções para os problemas apontados pelos delegados. A Polícia Federal tem, ao todo, cerca de 1,5 mil delegados e 14 mil servidores.
Dentre os delegados entrevistados, 37,46% trabalham em delegacia, 46,53% em superintendências regionais e 16% na sede da Polícia Federal. A maioria, 58,31%, é delegado na PF há no mínimo seis anos e, no máximo, dez. 25,08% têm até cinco anos de experiência no cargo, 9,63% têm de 11 a 15 anos, enquanto 5,44% têm de 16 a 20 anos. Somente 1,51% trabalham como delegado há mais de 21 anos.