Para procuradora, demora judicial estimula fraudes

9 de novembro de 2007 10:22

O principal símbolo da morosidade, segundo ela, é o fato de as investigações sobre o escritório de “private banking” do Credit Suisse não estarem concluídas cerca de dois anos depois de terem sido iniciadas.

A apuração de que o Credit Suisse usava doleiros para fazer remessas começou em dezembro de 2005. Em abril do ano passado, o economista suíço Peter Schaffner foi preso quando tentava deixar o país, segundo a PF. Ele era o responsável pelo escritório de “private banking” do Credit no Brasil, segundo a polícia.

“Não sei por que o inquérito do Credit ainda não foi concluído. É o inquérito-mãe dos bancos suíços. Os suíços devem achar que a prisão que ocorreu no ano passado foi circunstancial”, diz Kahn. Ela frisa que a morosidade não é culpa da PF nem da Justiça federal. “É o sistema judiciário que é lento demais.”

A prisão do suíço, revogada dez dias depois, não foi suficiente para que o escritório do Credit deixasse de abrir contas de brasileiros na Suíça e de remeter os valores por meio de doleiros, segundo as investigações da PF que desembocaram na Operação Kaspar 2, realizada na última terça-feira.

Schaffner ficou com o passaporte retido até agosto do ano passado e, após obter um habeas corpus do Tribunal Regional Federal, não voltou mais ao país. Convocado pela PF, apresentou um atestado médico dizendo que estava com síndrome do pânico. Foi indiciado.

Na Operação Kaspar 2, três executivos dos bancos UBS, AIG Private Bank e Clariden Leu foram presos em São Paulo. Também foram detidos 6 doleiros e 11 clientes dos bancos acusados de fazer remessas ilegais para a Suíça.

“Os suíços apostam na impunidade, mas o Brasil está mudando e consegue prevenir crimes financeiros. O problema é o Supremo [Tribunal Federal], que acha que crime financeiro tem um dano limitado. É uma visão equivocada”, afirma.

A sensação de impunidade, na visão da PF, está sintetizada na trajetória da empresária Claudine Spiero, acusada de atuar como doleira para os bancos suíços.

Ela trabalhava para o Credit na época da prisão de Schaffner e manteve sua rotina de doleira até a última terça-feira. Ontem, a Folha revelou que o escritório de “private banking” do Credit apresentou a doleira a clientes brasileiros numa reunião em Punta del Este (Uruguai) no final do ano passado.

O Credit diz que jamais usou doleiros e que essa reunião nunca aconteceu.

A procuradora diz que o que mais impressionou na investigação em torno dos bancos suíços foi a intimidade com que os gerentes tratavam os doleiros.

Outro lado
O delegado da PF Ricardo Saadi diz que o inquérito do Credit Suisse não foi concluído porque ele é extremamente complexo, com ramificações que resultaram nas prisões desta semana.
O advogado Alex Leon Ades, que defende Schaffner, diz que “a demora do inquérito não tem nenhuma relação com a vinda ou não dele ao Brasil”.