Para tentar coibir caixa dois, PF mira a ação de doleiros
Sem autonomia para abrir por conta própria investigações contra parlamentares e outras autoridades suspeitas de crimes eleitorais, a Polícia Federal decidiu intensificar suas ações contra operadores de esquemas de desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Ao mirar em doleiros, donos de factorings (que compram, com desconto, cheques e promissórias) e controladores de empresas de fachada, a PF avalia ser possível atingir, ainda que de raspão, crimes como financiamento irregular e caixa dois de campanha.
O novo foco é visível no balanço de operações da PF nos últimos três anos. Em 2012, as áreas com mais ações foram repressão ao tráfico de drogas, crimes fazendários, desvio de recursos públicos e crimes ambientais –nesta ordem.
Em 2013, as ações contra desvio de dinheiro público pularam para o primeiro lugar do ranking da PF. Foram 56 operações nessa área, contra 46 em 2012. O número de funcionários públicos presos também aumentou, passando de 83 para 111 no período.
Neste ano, por causa da Copa, o número de operações deve ser menor que as 301 registradas em 2013. Das 158 mega-ações da PF até julho de 2014, a maioria foi contra tráfico de drogas: 34. Casos de lavagem e desvios somam 29 operações.
No primeiro semestre foram deflagradas ao menos cinco megaoperações contra lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos que desestruturaram organizações suspeitas de operar para políticos. A mais notória e explosiva delas é a Lava Jato, que começou investigando a ação articulada de doleiros de Paraná, Brasília, São Paulo e Rio.
A operação se desdobrou em mais de uma dezena de outros inquéritos –que apuram, entre outros crimes, a suspeita de desvio de recursos e de contratos fraudulentos da Petrobras e do Ministério da Saúde, além da relação dos doleiros com um deputado federal e um senador.
A PF não descarta que alguns dos investigados estejam envolvidos também com doação de campanha, por conta do conteúdo do material apreendido numa das buscas: uma lista com nomes de empresas e referências a candidatos. Algumas dessas empresas já aparecem como doadoras no pleito deste ano.
Em Mato Grosso, a apuração de suspeita de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos abastecido por construtoras chegou ao governador do Estado, a um senador e a promotores e procuradores, entre outras autoridades, depois que uma planilha com cartas de crédito foi apreendida.
Em Pernambuco, os alvos da Operação Grande Truque foram doleiros que atuavam também em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte. Policiais federais ouvidos pela Folha acreditam que as megaoperações dos últimos meses interferiram na contabilidade de campanha de muitos candidatos pelo país afora – seja por ter intimidado quem apostava em financiamento irregular seja por ter desarticulado esquemas montados para a eleição deste ano.