PF aborta massacre a alunos da UnB

23 de março de 2012 09:03

 
Presos pela PF, os dois pretendiam invadir uma casa de festas no Lago Sul e atirar em graduandos de ciências sociais

Após receber quase 70 mil denúncias e conduzir uma investigação ao longo de quatro meses, a Polícia Federal (PF) prendeu ontem dois homens que planejavam um ataque a estudantes de ciências sociais da Universidade de Brasília (UnB). Por meio de um site (veja quadro ao lado), o ex-estudante da UnB Marcelo Valle Silveira Mello e o especialista em informática Emerson Eduardo Rodrigues postaram mensagens combinando o massacre.
 
Ontem, durante buscas realizadas em Brasília e em Curitiba, os policiais encontraram um mapa apontando uma casa de festas frequentada pelos universitários no Lago Sul. Local onde, segundo a PF, poderia ocorrer a tragédia. A página da internet também incitava a violência contra negros, homossexuais, mulheres, nordestinos e judeus, além pregar o abuso sexual contra menores.
 
A ameaça de ataques foi o que motivou a polícia a pedir à Justiça Federal a expedição dos mandados de prisões, que foram efetuadas ontem na capital paranaense. No site, havia postagens indicando, inclusive, quando poderia ocorrer o massacre aos estudantes. "Eles falavam que isso iria acontecer depois do carnaval", disse ao Correio o delegado Wagner Mesquita de Oliveira, chefe regional de Combate ao Crime Organizado da PF no Paraná.
 
Na página da internet, a dupla postou, no último dia 12, uma nota intitulada "Estudantes de Ciências Sociais da UnB, estamos a caminho". Nela, afirmam: "Esse provavelmente é o último registro que irei deixar". No texto, criticam donos de empresas de comunicação, classificados por eles como judeus e esquerdistas, dizendo que iriam criar mil teorias em cima da m…toda. "As palavras bulliyng e psicopata logicamente estarão presentes", diz o texto.
 
"Entre os pertencentes dos acusados, encontramos um mapa de onde poderia acontecer o suposto atentado", explicou o delegado. Na internet, a dupla chegou a manifestar ansiedade em relação aos planos de atacar os alunos de Ciências Sociais: "A cada dia que se passa fico ansioso, conto as balas, sonho com os gritos de vagabundas e esquerdistas chorando, implorando para viver".
 
O mapa, segundo um dos envolvidos, seria um croqui desenhado por sua avó — tese que a PF não acredita ser verdadeira. Durante as buscas, os policiais dizem ter encontrado outros indícios de que a dupla colocaria em prática os planos expostos no site. "Pode ser que eles não quisessem ficar só no campo das ideias", afirmou Mesquista, que coordenou o grupo responsável pela investigação.

Operação
 
A caçada aos dois blogueiros começou no fim de dezembro, quando a PF e a Secretaria Especial dos Direitos da Mulher receberam 70 mil denúncias contra o site intitulado silviokoerich.gov, que estava hospedado na Malásia. Marcelo e Emerson chegaram a viajar para o país asiático. Na página, eles faziam ameaças explícitas a autoridades, segundo a PF. "Havia, por exemplo, ataques à presidente Dilma Rousseff e ao deputado Jean Wyllis (PSol-RJ), entre outras pessoas", disse Mesquita. Homossexual assumido, Wyllis é defensor da causa LGBT. Além disso, a polícia encontrou fotos de armamentos que ainda serão investigadas. "Não sabemos se eles tinham mesmo a arma ou se são fotos da internet", completou.
 
No site, os dois blogueiros postaram mensagens referentes ao ataque sofrido pela Escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, onde Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, chegou atirando e matou 12 crianças em abril de 2011. Há frases semelhantes às usadas por Wellington antes das mortes dos estudantes, como "Só Deus pode me julgar" e "Os impuros não podem me tocar".
 
A PF vai investigar se houve alguma ligação entre os dois presos e o matador da capital fluminense. "Há a possibilidade de eles terem relação, mas ainda vamos fazer um cruzamento do material que foi recuperado no computador de Wellington com o que recolhemos na busca e apreensão para saber se houve ou não o contato", explicou o delegado responsável pelas investigações.