PF apreende documentos em ONG de SC

9 de novembro de 2007 10:35

A Polícia Federal em Chapecó (SC) apreendeu ontem na sede da Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), entidade sindical suspeita de desviar verbas repassadas pela União e investigada pela CPI das ONGs, 120 caixas com documentos e 48 HDs (discos rígidos) de computadores.

Segundo o delegado Misael Mazzetti, os documentos podem auxiliar a PF a “vincular” as supostas fraudes cometidas pela Fetraf-Sul com a campanha do deputado estadual Dirceu Dresch (PT-SC), que era coordenador-adjunto para Santa Catarina na entidade.

Desde abril, a PF investiga os supostos desvios da entidade sindical, ligada ao grupo da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). O dinheiro era repassado por órgãos federais para o financiamento de cursos da Fetraf nos três Estados do Sul.

“Já há prova testemunhal robusta e outros elementos e irregularidades que levam a crer [que houve caixa dois direcionado à campanha do petista]”, disse o delegado. “Há pessoas que constam dos doadores na declaração [de Dresch ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Santa Catarina], mas não doaram. Existe um indício fortíssimo”, complementou.

No inquérito, há planilhas sobre os cursos que apresentam itens como “gasto real” (com valores mais baixos do que o recebido em recursos) e “saldo Fetraf” (com a diferença entre “gasto real” e o que foi recebido). Uma das planilhas tem o nome de “Cx II”. Os dados aparecem em DVDs.

A Fetraf nega as suspeitas e não reconhece como seus os documentos gravados nos DVDs, que foram obtidos pelo Ministério Público Federal e repassados à PF. A federação diz que documentos foram furtados de sua sede, em Chapecó, e que as planilhas podem ser versões adulteradas.

De acordo com o delegado Mazetti, as movimentações financeiras da Fetraf-Sul são “estranhas”. “Ela não fecha. Não bate com a declarada.”

A suspeita é que o dinheiro possa ter sido enviado para a campanha de Dresch.

Diretores, assessores e funcionários da Fetraf-Sul que doaram dinheiro para a campanha dele a deputado estadual constam dos beneficiários de recibos emitidos pela federação. Os recibos podem ter sido emitidos para cobertura de gastos que só ocorreram no papel.

O delegado disse ainda que “várias testemunhas” confirmaram não ter doado ao petista, apesar de estarem na relação do TRE-SC.

Segundo a investigação da PF, as fraudes podem chegar a R$ 6,4 milhões, com dinheiro dos ministérios do Trabalho e do Desenvolvimento Agrário e de outros órgãos federais.

Parte do valor (R$ 1,2 milhão) é relativo à Cooperhaf (Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares dos Três Estados do Sul) -órgão que é ligado à Fetraf. Para a Procuradoria, há provas de crimes de “desvio, estelionato e peculato”.