PF busca brasileiros mortos no México
BELO HORIZONTE – Três integrantes da Polícia Federal do Brasil embarcarão domingo para a Cidade do México para investigar a suspeita de que mais dois brasileiros teriam sido mortos na chacina de 72 imigrantes latino-americanos em San Fernando, Estado mexicano de Tamaulipas, em agosto.
São dois peritos e um papiloscopista, especialista em identificação por meio de impressões digitais. Eles levarão material genético recolhido de parentes de dois brasileiros, que estão desaparecidos e viviam no Pará.
Na quarta-feira, o Itamaraty confirmou que a polícia mexicana conseguiu identificar o segundo brasileiro morto no massacre. Hermínio Cardoso dos Santos, de 24 anos, de Sardoá (MG).
O primeiro corpo de um brasileiro identificado foi o de Juliard Aires Fernandes, de 20 anos, de Santa Efigênia de Minas. Ambas as cidades ficam no Vale do Rio Doce mineiro. De acordo com as famílias, ainda não há previsão para a chegada dos corpos à região.
Esta semana, o governo mexicano enviou ao Itamaraty documentos de outros dois brasileiros encontrados no local. Os dois são do Pará e estão desaparecidos. A assessoria da PF em Brasília informou que os dois mineiros só foram identificados porque tinham passaportes do novo modelo, que tem impressão digital.
De acordo com a PF, os passaportes dos paraenses, enviados pelo México ao Brasil, são do modelo antigo, sem digitais. Eles não tiveram os nomes revelados, já que não há confirmação de que estejam entre os mortos.
Assassinatos. A chacina de San Fernando ocorreu quando o grupo de 72 imigrantes cruzava o México e tentava entrar nos EUA. Capturados por integrantes do cartel Los Zetas, que disputa o controle do tráfico de drogas na região, eles foram executados, segundo a polícia local, por não concordarem em trabalhar para os narcotraficantes.
Ontem, um fotógrafo do jornal El Diario, de Ciudad Juárez, morreu no estacionamento de um shopping center da cidade. Ele foi executado com um tiro na cabeça em plena luz do dia, às 14 horas (hora local, 16 horas de Brasília), por um grupo de pistoleiros.
No domingo, o Instituto Internacional de Imprensa (IPI, na sigla em inglês) classificou o México como o lugar mais perigoso do mundo para o exercício do jornalismo. Dos 52 assassinatos de jornalistas nos primeiros oito meses de 2010, 11 ocorreram no México.
Desde que o presidente Felipe Calderón assumiu o poder, em dezembro de 2006, e endureceu a guerra contra os cartéis, 30 jornalistas foram assassinados no país. Apesar de ter destacado cerca de 45 mil soldados para o combate ao narcotráfico, os resultados são desanimadores. Nos últimos quatro anos, 28 mil pessoas morreram em ações ligadas à luta contra o crime no México.
Impunidade. "Os jornalistas mexicanos continuam perdendo a vida por causa de milícias, criminosos, pistoleiros, traficantes, políticos corruptos e funcionários de segurança inescrupulosos", disse Alison Bethel McKenzie, diretora do IPI.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, nos EUA, culpou a impunidade pelos assassinatos de profissionais da imprensa no México. Segundo o CPJ, a censura imposta aos meios de comunicação e a violência contra jornalistas são comparáveis a índices de países em conflito aberto.
"Eles (os narcotraficantes) acham que podem atacar, assassinar, sequestrar, lançar granadas e explodir carros-bomba sem nenhuma consequência", afirmou Carlos Lauría, um dos coordenadores do CPJ.
PARA ENTENDER
Desertores de elite formaram "Los Zetas"
Considerada a organização mais violenta do México pela agência antidrogas local, o grupo Los Zetas foi formado por desertores das forças especiais do Exército mexicano. Depois, agentes corruptos da burocracia entraram na organização, acompanhados dos "Kaibiles" – temíveis soldados de elite da Guatemala. Autoridades mexicanas afirmam que o grupo atua nos EUA e teria estendido sua influência até a Itália.
Violência
A disputa entre os cartéis se torna cada vez mais violenta e uma onda de terror tem início no México. Desde 2006, a guerra contra o narcotráfico já fez pelo menos 28 mil vítimas
Resposta militar
Cartéis passam a disputar territórios e mercados. Após tomar posse, em 2006, o presidente Felipe Calderón (foto) põe o Exército nas ruas para combater o narcotráfico. Para conter a corrupção, recentemente exonerou 3,2 mil agentes da PF Imigração Imigrantes seguem até países que não exigem visto, como a Guatemala. Com documentos falsos, atravessam o México em veículos até cidades da fronteira com os EUA. Cartéis costumam sequestrar ilegais e exigir resgate das famílias.
COM REUTERS, AP e AFP
Fonte: Estadão.com.br