PF busca quem intermediou a viagem dos brasileiros mortos
A Polícia Federal iniciou uma investigação para saber quem ajudou Juliard Aires Fernandes, de 19 anos, e Hermínio Cardoso dos Santos, de 24, a deixarem da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, na esperança de entrar ilegalmente nos EUA pela fronteira mexicana. O corpo de Juliard foi identificado entre as 72 vítimas de uma chacina em Tamaulipas, no México, na semana passada. A morte de Hermínio ainda não foi confirmada, mas documentos dele foram encontrados no local do crime, próximo aos corpos.
Para apurar em que circunstâncias os jovens mineiros viajaram, na quarta-feira dois agentes da PF estiveram na casa deles, na zona rural de Santa Efigênia e Sardoá, ambas a cerca de 70 quilômetros da cidade de Governador Valadares. Após um curto e informal interrogatório às famílias, os policiais deixaram seus contatos solicitando informações sobre possíveis “cônsules”, que normalmente são contratados para agenciar as viagens dos emigrantes ilegais.
A família de Juliard insiste em dizer que não sabe de nada. “Ele trabalhou por quatro anos, juntou o dinheiro e foi. Só deixou o cartão do banco para eu pegar o que ele mandaria de lá, mas não me explicou nada”, limita-se a falar, emocionado, o pai Alírio Aires Fernandes. Seu filho saiu de casa no dia 3 de agosto, acompanhado de Hermínio. Os dois seguiram para São Paulo, de onde partiram para a Guatemala e depois ao México.
O pai de Hermínio, Antonio Ramos dos Santos, também tem evitado falar no assunto, que ainda o confunde. Ele conta que o filho daria notícias quando chegasse aos Estados Unidos. Conforme o combinado com a família, 48 horas depois de se instalar em terras americanas – e somente após cinco ligações – ele enviaria os dados de uma conta bancária na qual o pai deveria depositar 24.500 reais. “Agora que a gente não sabe se ele está vivo, vou ter que devolver o dinheiro para quem me emprestou”, diz.
Antonio conta que o jovem já havia sido deportado da Itália, onde ficou quase um ano, e de Portugal. “Na época em que o dólar valia muito, ele queria ir para os Estados Unidos, mas eu ia ter que dar meu terreninho como garantia para o empréstimo e ia ficar sem nada”, lembra. Ele alega não saber quem organizou a viagem de seu filho e não revela como conseguiu o dinheiro para ajudá-lo. “A gente só quer ele de volta. Melhor vivo, né? Mas se ele morreu, o corpo tem que vir para cá logo.”
Auxílio – Também na quarta-feira, as famílias receberam a visita de representantes do governo de Minas Gerais. De acordo com o chefe da comunicação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, Odilon Araújo, "o estado vai arcar com todos os custos de traslado dos corpos, assim que forem liberados, e de funeral”. A pedido do Itamaraty, foram coletados dados dos jovens para facilitar a elaboração dos atestados de óbito e agilizar o envio dos corpos ao Brasil. No caso de Hermínio, o governo federal já havia questionado a família sobre marcas que pudessem identificá-lo – ele tem uma queimadura grande na perna e uma das orelhas furadas, segundo os parentes.
Fonte: Veja – Online