PF começa patrulha em reserva
Logo à frente do grupo iam dez homens do Comando de Operações Táticas – um dos mais bem treinados da instituição para o enfrentamento de situações de risco e de violência. Usavam capacetes, coletes à prova de bala e escudos, além de portar armamento pesado.
Apesar do receio de alguma reação da parte dos grupos contrários à criação da reserva Raposa Serra do Sol e à retirada dos não-indígenas da área, a chegada da Polícia Federal foi tranqüila. Eles vieram em 20 picapes, que também foram usadas para o transporte de equipamentos e armas.
No fim da tarde já tinham sido instaladas duas barreiras na estrada de acesso a Surumu, para controlar a passagem de pessoas para a área indígena.
Ontem, a PF também instalou barreiras no Passarão, outro vilarejo, às margens do Rio Uraricoera, onde funciona uma balsa que dá acesso à Raposa Serra do Sol. As duas passagens são importantes para os índios e também para os arrozeiros. É por elas que se faz o escoamento da produção de arroz, cuja colheita começa nos próximos dias.
Mobilização
Além dos homens da PF, foram mobilizados 100 policiais da Força de Segurança Nacional. Eles foram os primeiros a sair de Boa Vista, na segunda-feira, acampando na terra indígena São Marcos, que faz fronteira com a Raposa. Hoje os federais se uniram a eles, com uma fila de quase 40 veículos, incluindo um caminhão de combustível, que se deslocou pela BR-174.
O objetivo da operação, segundo explicações de seu coordenador, delegado Fernando Segóvia, é garantir a segurança e a tranqüilidade dos moradores até que a Justiça chegue a uma decisão final sobre a criação da Raposa Serra do Sol – que está sendo analisada no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar das precauções policiais, o risco de conflitos na região não está completamente afastado.
Por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o arrozeiro Paulo César Quartiero, que liderou dias atrás o movimento de resistência à operação de retirada dos não-indígenas da área, voltou ontem a assumir oficialmente o cargo de prefeito de Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Ele havia sido afastado em março do ano passado, acusado de corrupção eleitoral.
Seu primeiro ato administrativo, assinado ainda ontem, foi um decreto no qual transfere a sede administrativa do município para o distrito de Surumu. Amanhã já estarei lá para despachar, disse ele, logo após a retomada da cadeira de prefeito. Não tenho nada a ver com a chegada a PF. Vou para lá porque existe uma situação de emergência: precisamos consertar as pontes e as estradas, para garantir o escoamento da produção de arroz, antes da chegada das chuvas.
O local é emblemático. Segundo os índios, seu verdadeiro nome é Comunidade do Barro. Mas, segundo o arrozeiro e prefeito, trata-se de um distrito de Pacaraima – criado há dois anos pela Câmara Municipal, controlada por ele. Para o Ministério Público, Pacaraima não existe, porque todo seu território foi englobado pelas terras indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol. Conseqüentemente, o distrito também não pode existir.
Foi lá em Surumu, ou Comunidade do Barro, que os arrozeiros concentraram suas forças, dias atrás, para impedir o avanço dos federais. No momento, é o Conselho Indigenista de Roraima, que encabeça a luta pela criação da reserva, que está levando índios para lá.