PF é acusada por uso político
Ferst sustenta que não captou recursos para Yeda e reclama que foi prejudicado dentro do governo que ajudou a eleger.
Sua prisão, em novembro de 2007, foi o início de um escândalo de corrupção que atingiu o governo Yeda. A crise já derrubou quatro secretários. Piorou após a gravação divulgada pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM) em que o ex-chefe da Casa Civil Cézar Busatto (PPS) liga o uso de estatais ao financiamento de campanhas.
FOLHA – O sr. acredita que houve uso político da PF?
LAIR FERST – Ocorreram fatos estranhos. Principalmente uma determinação superior de expor os presos à mídia. A delegada disse que tinha ordens superiores para largar os presos na rua para que a imprensa pudesse filmar e fotografar. Outro fato estranho é que os investigadores queriam saber de um cheque que eu havia dado para a compra da casa [de Yeda]. Esse cheque nunca existiu.
FOLHA – O sr. considera conveniente para a PF, ou para o governo federal, expor um governo do PSDB?
FERST – A sucessão de fatos revela isso. A sintonia dos políticos de oposição [PT] com as autoridades investigadoras é muito grande. Nunca se viu uma CPI estar tão ligada aos órgãos investigadores.
FOLHA – Qual a sua relação com a governadora?
FERST – É uma relação político-partidária que se deu até o dia da eleição. Na campanha, eu só me encontrava com ela em eventos públicos. Atuei como militante. Até achei que seria convidado [para algum cargo], mas isso não aconteceu.
FOLHA – O sr. arrecadou recursos para a campanha?
FERST – Eu não fazia parte do grupo escalado para fazer esse trabalho. O vice-governador Paulo Feijó (DEM) era arrecadador no primeiro turno.
FOLHA – Mas o sr. circula bem no meio empresarial. O PSDB não o utilizou como poderia?
FERST – Quando a campanha estava com dificuldades financeiras, disse que o comitê de arrecadação era muito fraco. Eu teria mais condições que as pessoas escaladas. Mas não fui convocado para isso, era um esquema muito fechado.
FOLHA – O sr. já havia atuado em outras campanhas de Yeda?
FERST – Sim. Mas também de outros. Na do governador Germano Rigotto [do PMDB, em 2002] tive uma atuação muito forte. Tive muito mais envolvimento direto com Rigotto do que com a governadora Yeda Crusius na campanha.
FOLHA – O sr. conversa ou conversava com o marido da governadora [Carlos Crusius]?
FERST – Não. Quando a governadora era deputada federal, o Carlos Crusius era o articulador político dela. Eu era o articulador político do Nelson Marchezan [deputado tucano morto em 2002]. Ele tinha razões de sobra para me vetar.
FOLHA – O sr. fez indicações no governo Rigotto?
FERST – Várias. Fui até secretário substituto do governo. As empresas da minha família foram contratadas durante o governo Rigotto e trabalharam sem nenhuma discriminação. No da Yeda, deu tudo para trás.
FOLHA – E a carta que o sr. escreveu a Yeda sobre o desvio no Detran?
FERST – Esta carta são fragmentos de um rascunho que existia, de dossiês com denúncias que circulavam. O texto que foi publicado na imprensa não tem autenticidade.
FOLHA – O que o levou a escrever esse texto?
FERST – Estava circulando muito dossiê [sobre desvios no Detran, antes da Operação Rodin]. Eu tive a informação de que um dossiê que me difamava tinha chegado ao gabinete de Yeda.
FOLHA – As empresas da sua família prestaram serviço ao Detran?
FERST – Não entendo porque dizem que essas empresas desviaram dinheiro público. Não existe nem um real de dinheiro público. É dinheiro privado, a Fatec [que intermediou o pagamento do Detran às empresas dos acusados de desvio] é uma fundação privada. Nenhuma das empresas prestou serviço ao Detran.
FOLHA – Mas o dinheiro que a Fatec repassou às empresas vinha do Detran.
FERST – Não sei. Dinheiro não tem carimbo.