PF faz guia de técnica para capturar estrangeiros

14 de abril de 2008 14:51

Durante décadas, Hollywood popularizou nas telas a imagem do Brasil como paraíso dos criminosos. Casos famosos como os do britânico Ronald Biggs e do colombiano Juan Carlos Abadía, passando pelo mafioso italiano Tomaso Buscheta, mostram que o estereótipo criado pelo cinema está mais próximo da realidade do que da ficção.

A experiência adquirida pela Polícia Federal brasileira foi colocada no papel, traduzida para o inglês e, a pedido da secretaria-geral da Interpol, será distribuída nos 186 países que integram a rede internacional de polícia.

É um clichê hollywoodiano a cena do criminoso no aeroporto com uma mala de dólares, uma loira bonita e duas passagens aéreas para o Rio de Janeiro. Isso está mudando.

As técnicas costumeiramente usadas pela polícia brasileira na captura de criminosos estrangeiros viraram um guia prático que está sendo traduzido a pedido da direção geral da Interpol  disse o delegado da PF Jorge Barbosa Pontes, chefe da Interpol no Brasil.

Prisão de israelense chegou ao Discovery Channel Além de Biggs, Abadía e Buscheta, a lista de peixes graúdos da bandidagem internacional presa pela polícia brasileira é extensa. Sucessora de Pablo Escobar no comando do Cartel de Cali, a colombiana Mery Valência foi presa no Rio, durante o carnaval de 1997.

Considerado um dos maiores estelionatários do mundo, o americano de origem israelita Shalom Weiss foi detido na Áustria depois de uma passagem por São Paulo.

A história cinematográfica chegou às telas da TV pelo Discovery Channel, que a classificou como uma das dez melhores histórias de perseguição de todos os tempos.

Ano passado, a Interpol brasileira prendeu 31 criminosos estrangeiros. Este ano, dez.

 Essa prática, em razão da grande demanda, fez com que acumulássemos experiência.

Agora decidimos passar isso para o papel. É a doutrina policial brasileira sendo exportada para o resto do mundo  disse Pontes.

Entre as técnicas indicadas na cartilha é possível notar traços da cultura brasileira.
Um exemplo: a segunda das sete regras básicas de investigação pegadas pela PF é não queimarás. Ou seja, é melhor perder a chance de capturar um criminoso do que deixar que ele perceba que está sendo perseguido. Outra regra básica é conhecer o alvo.

 É preciso estudar a personalidade do criminoso. Saber que tipo de restaurante ele freqüenta, qual a bebida preferida, hábitos sociais e até sexuais.
No caso da Mery Valencia, por exemplo, descobrimos que ela era lésbica e isso facilitou a localização  explicou o chefe da Interpol brasileira.

Logo na apresentação, a cartilha esclarece: Não se trata de pura teoria da atividade policial, mas do registro de métodos e artimanhas legais utilizadas com sucesso em recentes ações. Por isso, boa parte do material é mantida em sigilo, para não alertar os criminosos.

Com o pedido da chefia mundial da Interpol para que a cartilha fosse traduzida para outros idiomas nas mãos, Pontes, responsável por codificar a experiência brasileira, se enche de orgulho:  Este pedido é o reconhecimento da expertise da PF brasileira.