PF investigará morte de adolescente xavante

1 de julho de 2008 11:09

O ministro da Justiça, Tarso Genro, determinou que o serviço de inteligência e equipamentos da corporação sejam colocados à disposição da Polícia Civil do Distrito Federal. O ministro estava em Porto Alegre (RS) e determinou a parceria em conversa por telefone com o diretor-geral da PF, delegado Luiz Fernando Corrêa. Genro tomou a medida três dias após ter anunciado que a PF assumiria o caso. O esclarecimento do homicídio cometido na última quarta-feira em um abrigo de índios, no Gama, continua sob responsabilidade da polícia brasiliense.

A PF se viu obrigada a entrar no caso porque o crime ocorreu na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) do DF, administrada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), um órgão federal. Outro motivo é a falta de experiência da PF em assassinatos. Uma exceção é a morte de quatro auditores fiscais e de um motorista do Ministério do Trabalho, em Unaí (MG). A chacina ocorreu em janeiro de 2004, quando o grupo inspecionava fazendas da região. O caso foi resolvido em seis meses, com a prisão de oito acusados. O delegado à frente da investigação, Antônio Celso, começou a carreira na Polícia Civil do DF.

Apesar de limitada ao apoio logístico, a PF pode ter um papel importante na definição do mistério. Os agentes federais, por exemplo, é que deverão trazer a Brasília duas testemunhas-chave: a mãe da menina, Carmelita, e a tia, Maria Imaculada Xavante. A segunda é uma das suspeitas de envolvimento no crime praticado provavelmente na madrugada de 25 de junho. Mas as duas voltaram para a aldeia São Pedro, em Campinápolis (MT), para o enterro de Jaiya. Elas são casadas com o mesmo homem.

A desconfiança de participação de familiares no assassinato chama ainda mais atenção pela crueldade e covardia que marcaram a barbárie. A adolescente teve os órgãos sexuais perfurados por uma barra de aço de 40cm, que também provocou rompimentos no estômago, baço e diafragma da vítima. A indignação fica ainda maior pela fragilidade da garota. Ela sofria de problemas neurológicos e motores por causa de uma meningite contraída na infância. Tinha 1,35m e 33kg. Morreu em decorrência de uma infecção generalizada, durante uma cirurgia no Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Depoimentos
Os investigadores da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) ouvirão nesta semana mais índios abrigados na Casai, no Gama. Nesses dois dias, vamos concentrar os depoimentos de pessoas que estavam na Casai entre a manhã de terça e a madrugada de quarta-feira. Vamos andar o mais rápido possível, pois estão de passagem por Brasília e não queremos perder essas informações, afirmou o delegado-chefe da 2ª DP, Antônio Romeiro. As testemunhas prestarão esclarecimentos com a ajuda de uma intérprete, provavelmente a chefe da Casai, Elenir Oroaia.

A polícia ouviu até ontem dois vigilantes, uma técnica de enfermagem do abrigo do Gama e duas parentes próximas da garota. Os depoimentos serviram para os investigadores terem uma noção do momento do crime. Segundos os relatos, houve uma confusão por volta das 3h de quarta-feira. Jaiya chorou, vomitou e acabou atendida pela equipe de plantão. Foi levado ao HUB por volta das 9h. A índia estava no DF desde 28 de maio para tratar de uma lesão neurológica grave no Hospital Sarah Kubitschek. A mãe e a tia a acompanhavam.

Os agentes da 2ª DP não voltaram à Casai nos últimos dias. No sábado, os índios convidaram dois agentes a se retirarem do lugar. Não houve confronto. Seguranças que trabalham no abrigo há quatro anos voltaram a dizer que é impossível estranhos terem entrado na Casai na madrugada do assassinato. Na casa onde mora Lígia, irmã de Jaiya, na Candangolândia, ninguém sabe dizer o que houve.