PF investigará vazamento de dossiê
A decisão foi tomada pelo governo no fim de semana, após encontro entre Dilma e o ministro da Justiça, Tarso Genro.
Depois de forte resistência da Casa Civil para a PF entrar no caso, a avaliação feita ontem por integrantes do governo era a de que a situação ficou insustentável. O principal objetivo de uma investigação externa é tirar a pressão do Palácio do Planalto de eventuais suspeitas de direcionamento na sindicância interna.
– Como o assunto ainda está em aberto, é preciso esclarecer as dúvidas. Por isso, é positivo uma investigação da Polícia Federal para descobrir o que aconteceu. Está claro que tem alguém de dentro do governo vazando dados sigilosos. Isso é crime – disse ontem o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.
No Planalto também começa a crescer a tese de que Dilma deve prestar depoimento na CPI do Cartão Corporativo. Ela ainda resiste a dar esclarecimentos à comissão parlamentar.
A avaliação reservada feita pela cúpula palaciana neste fim de semana era a de que as explicações de Dilma na última sexta-feira, sobre a elaboração do dossiê dentro da Casa Civil, não foram convincentes. Por isso, seria necessário uma ação mais contundente para encerrar o assunto definitivamente. Integrantes do governo tentam convencê-la a depor na CPI. Seria uma forma de o governo ir para a ofensiva e sair das cordas.
Lula já não esconde desconforto
Hoje, o presidente Lula deve definir a linha de atuação do governo na reunião de coordenação política. Segundo interlocutores, Lula não esconde mais o seu desconforto com o fato de o governo estar acuado em relação ao escândalo do dossiê.
Até então, havia forte resistência na Casa Civil para a entrada no caso da Polícia Federal. Assessores palacianos alegavam que isso causaria constrangimento ao governo. No Planalto, permanece o trauma da ação da PF, em 2006, na investigação da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o que causou a queda do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
De forma reservada, já se admite no Palácio do Planalto a hipótese de que o autor do vazamento dos dados não seja a mesma pessoa que produziu o dossiê. Mesmo assim, a estratégia do governo é a de concentrar as investigações no vazamento e não na elaboração da planilha. Na sexta-feira, a própria Dilma admitiu que o governo foi alvo de crime, pela possível invasão dos computadores. Mas só no fim de semana, ela decidiu dar sinal verde para a investigação da PF.
Nessa mesma entrevista, Dilma anunciou que cinco computadores da sua pasta seriam periciados. As máquinas já foram lacradas e serão analisadas pelo Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), ligado à Casa Civil. Esses computadores eram usados por seis assessores da Casa Civil, que no início de fevereiro foram encarregados de fazer a elaboração da planilha com os gastos da gestão Fernando Henrique Cardoso.
Esse grupo de funcionários era coordenado pela diretora de Recursos Logísticos, Maria de La Soledade Bajo Castrillo, até recentemente chefe de gabinete da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Eles foram cedidos por três órgãos do ministério: Secretaria de Controle Interno e diretorias de Orçamento e Finanças e de Logística.