PF opta por esperar procurador
Mas o delegado Sérgio Menezes, que cuida do caso, teme apontar a culpa da ministra e, logo depois, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, negar um pedido feito em março pela oposição de abertura de investigação sobre a participação dela no episódio. Isso enfraqueceria a conclusão da PF.
A investigação da polícia termina, oficialmente, na primeira semana de julho. Por enquanto, os trabalhos da PF estão parados. Menezes segurou o inquérito para aguardar a resposta do procurador-geral. A representação foi feita por deputados e senadores da oposição em 26 de março solicitando a entrada do Ministério Público no caso. O pedido foi feito antes da abertura da apuração da PF em 7 de abril.
Para o delegado, o sucesso do inquérito policial depende de um tripé. Nesse tripé, estão a própria polícia, a Procuradoria-Geral da República e o Judiciário. Na avaliação de Menezes, a investigação conduzida por ele deve estar em sintonia com as demais. Caso contrário, o alto escalão do governo terá argumentos para desmontar o trabalho da PF.
Como Dilma, por ser ministra, tem foro privilegiado, caberá à própria Procuradoria-Geral da República pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma abertura de investigação contra ela, caso a PF inclua seu nome no relatório final. Ou seja, se o procurador Antonio Fernando rejeitar o pedido feito pela oposição em março, ele dará um sinal de que pode não aceitar a conclusão da PF. Ciente disso, Menezes está segurando o término do inquérito.
O delegado não quer repetir situação vivida pelo colega de PF Diógenes Curado, que investigou entre 2006 e 2007 o escândalo do dossiê dos aloprados petistas contra políticos do PSDB. O delegado indiciou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), mas Antonio Fernando de Souza não aceitou.
Desta vez, a alegação oficial da PF sobre o caso do dossiê contra Fernando Henrique é a de que a representação da oposição na Procuradoria foi anexada ao inquérito policial. E, por isso, o delegado aguarda uma posição do chefe do Ministério Público Federal. Quem entregou a ele cópia do pedido ao procurador foi o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) logo depois da abertura da apuração da polícia.
Silêncio
Num sinal de que estava chegando perto da conclusão do inquérito, o delegado passou a evitar a imprensa após a descoberta no mês passado de que José Aparecido Nunes Pires, ex-secretário de Controle Interno da Presidência da República, repassou o dossiê por e-mail a André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Em depoimento à PF, Aparecido entregou o nome de Norberto Temóteo, secretário de Administração da Casa Civil. Foi Norberto quem cuidou do grupo de trabalho da Presidência da República que manipulou as informações contidas no dossiê contra Fernando Henrique. Ele é subordinado a Erenice Guerra, secretária-executiva da pasta e braço direito de Dilma.
Ou seja, para a PF, o quebra-cabeça para identificar a origem do polêmico dossiê está montado. Resta agora buscar uma maneira de encerrar a investigação sem qualquer contestação governista. Por isso, o delegado teme responsabilizar Dilma antes da manifestação do Ministério Público.
A postura de Menezes durante toda a investigação tem preocupado o Palácio do Planalto. Embora seja subordinado ao ministro da Justiça, Tarso Genro, o delegado não deu sinais desde o começo do inquérito de que aliviaria para o lado da ministra Dilma. Pelo contrário, avaliou que as informações contidas no dossiê eram sigilosas, interpretação contestada pelo Planalto. Para a Casa Civil, esse episódio se restringe ao vazamento de informações feito por José Aparecido à oposição.