PF prende fazendeiro em Roraima
A ação foi coordenada diretamente pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que cancelou compromissos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ir ao local do conflito, a Fazenda Depósito, de propriedade de Quartiero. Na véspera, seguranças do arrozeiro, encapuzados, atacaram, com armas e uma bomba caseira, um grupo de índios que montava acampamento.
Ao mesmo tempo em que Quartiero era preso em Roraima, por formação de quadrilha, ocultação de armas e obstrução de estradas, Tarso dava uma entrevista em Manaus, na qual atacou o fazendeiro. O ministro, que foi a Roraima acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, chamou os seguranças de Quartiero de pistoleiros e terroristas. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o ataque.
– Um grupo de encapuzados atacou índios desarmados. Foi uma agressão violenta, dramática e absolutamente desnecessária – disse Tarso, que afirmou ter assistido a imagens do ataque feitas a partir de um telefone celular.
O contra-ataque do governo começou a ser armado de manhã, quando Tarso telefonou para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto pedindo autorização para que a Polícia Federal pudesse fazer diligências na região do conflito. Ayres Britto, que é relator da ação que decidirá se a reserva será desocupada, como quer o governo federal, deu o sinal verde a Tarso, ao dizer que a PF não precisa de licença para entrar em terras indígenas. A desocupação total da reserva está suspensa por uma liminar do STF.
Chinaglia: governador pediu por arrozeiro preso
Tarso, que participava de solenidades com Lula em Manaus, decidiu então seguir para Boa Vista com o diretor da PF. De lá, os dois foram de helicóptero para a área do conflito. O ministro determinou que também fossem deslocados para a região 300 homens da PF e da Força Nacional de Segurança (FNS), que estão em Roraima esperando uma decisão judicial que permita pôr em prática a operação de desocupação da Raposa Serra do Sol. Tarso disse que a mobilização das tropas tem como objetivo “pacificar” a região. E determinou que os homens desarmem todos os índios e não-índios que vivem na região. Aos índios, Tarso pediu uma trégua de dois dias.
No fim da tarde, Quartiero foi preso em sua fazenda. De acordo com policiais que participaram da prisão, lá foram encontradas armas, bombas caseiras e spray de pimenta. O fazendeiro foi levado para a sede da superintendência da PF em Boa Vista, onde prestaria depoimento ontem à noite. O superintendente José Maria Fonseca comparou o comportamento de Quartiero e de seu grupo ao de integrantes da facção criminosa que domina os presídios de São Paulo.
– Os atos praticados são de quadrilhas ou bandos. Ele (Quartiero) já demonstrou que não está disposto a respeitar nada, nem ninguém – disse Fonseca.
De acordo com a Polícia Federal, pelo menos três indígenas baleados já foram ouvidos. A polícia tenta identificar os autores dos disparos, mas até o fim da noite eles não haviam sido encontrados.
– Se forem encontrados armados, sem o devido porte, serão presos em flagrante – afirmou Fonseca.
Horas depois do ataque aos índios, Quartiero deu entrevistas dizendo que seus seguranças apenas revidaram a ataques de índios armados de arcos e flexas. Segundo o superintendente da PF, ninguém foi ferido por flexa e nenhuma arma foi encontrada em poder dos índios. A PF também informou que os índios feridos não correm risco de vida.
De acordo com o líder indígena Jaci Souza, o grupo irá permanecer no local, onde nove malocas já foram construídas. Ontem à noite, o governador de Roraima, José de Anchieta, pediu ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que interviesse em favor de Quartiero. O pedido de ajuda foi relatado por Chinaglia aos jornalistas durante a posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto. Chinaglia disse ter respondido que pouco poderia fazer.