PF procura no exterior US$ 50 mi do esquema Cisco

17 de dezembro de 2007 10:40

Documento apreendido pela Polícia Federal durante a Operação Persona provocou uma guinada nas investigações sobre supostas fraudes em importação de equipamentos da Cisco, a maior empresa do mundo de redes para computadores. Os papéis informam que os sócios da Mude, a principal distribuidora de produtos da Cisco no Brasil, teriam US$ 50 milhões fora do país, segundo documentos da investigação obtidos pela Folha.

Agora, a prioridade da Operação Persona é tentar encontrar esses recursos, equivalentes a R$ 90 milhões. A avaliação dos policiais é a de que a acusação de fraude nas importações, investigada durante dois anos, está muito bem documentada – daí o foco nos supostos recursos no exterior. A Justiça determinou a abertura de um novo inquérito para investigar os US$ 50 milhões.
A PF e a Receita Federal acusam a Mude de usar um esquema fraudulento para importar equipamentos da Cisco dos Estados Unidos sem pagar todos os impostos. O esquema, de acordo com a PF, teria deixado de arrecadar mais de R$ 1,5 bilhão em impostos.

A papelada que cita os US$ 50 milhões foi encontrada pela PF na casa do advogado José Roberto Pernomian Rodrigues, um dos diretores da Mude. O documento detalha o plano dos empresários de “redesenhar a Mude”. Os procuradores da República Marcos José Gomes Corrêa e Priscila Costa Schreiner dizem na denúncia, jargão jurídico que designa a acusação formal contra os empresários, que os dólares estão “localizados em local ainda não sabido”.

O advogado Antonio Ruiz Filho, que defende Rodrigues, disse que seu cliente não tem recursos no exterior, como supõe a PF. Os US$ 50 milhões, segundo ele, era o valor que os executivos esperavam receber pela venda da Mude .

Venda
Executivos que conhecem a Mude e a Cisco contaram à Folha, sob a condição de que seus nomes não fossem divulgados, que Rodrigues preparava a venda da Mude quando a Operação Persona foi deflagrada, no dia 16 de outubro deste ano, com a prisão de 40 pessoas -a grande maioria já foi liberada.

Segundo esse plano, a Mude seria vendida por US$ 100 milhões para a Westcom. O Unibanco intermediava o negócio. O documento encontrado com Rodrigues sugere que os executivos usariam uma outra empresa controlada por eles, chamada What”s Up Business, para ocupar o mercado que era da Mude. Os US$ 50 milhões, de acordo com essa interpretação, serviriam para turbinar a What”s Up Business.
O plano não é o único documento encontrado com Rodrigues que mostra que os executivos teriam recursos no exterior não declarados à Receita Federal. Foram achadas listas com o nome das offshores que o grupo tem nas Ilhas Virgens Britânicas e no Panamá.

Offshore é um tipo de empresa criada em paraísos fiscais com dois objetivos: pagar menos imposto e dificultar que a Justiça descubra quem são seus verdadeiros donos.