PF: R$ 100 milhões para campanhas

19 de setembro de 2007 11:54

A decisão será anunciada até o final do mês. Será a parte 2 do mensalão e a inclusão de uma ala tucana na mira do Supremo Tribunal Federal (STF). No período que antecedeu a eleição daquele ano, o esquema operado pelo publicitário Marcos Valério de Souza – elo com o escândalo que envolveria em 2003, o PT e integrantes do governo Lula – teria movimentado mais de R$ 28 milhões, distribuídos pelo caixa de campanha do senador, o tesoureiro Cláudio Mourão, a políticos do PSDB mineiro.

A lista de Mourão, juntada ao relatório do delegado Luiz Flávio Zampronha, incluiria a doação de R$ 110 mil ao hoje governador de Minas Gerais, Aécio Neves, na época candidato a deputado. Segundo o relatório, pelo menos R$ 500 mil teriam sido desviados do antigo banco oficial do governo de Minas Gerais, o BEMGE, e misturados aos recursos arrecadados para a campanha de Azeredo. Um depósito de R$ 15 mil, rastreado pela Polícia Federal no montante supostamente desviado, teriam ido parar na conta de Lídia Lima, funcionária e ex-sócia de uma irmã de Aécio, Andréia Neves.

As investigações da Polícia Federal comprovaram que, ao contrário do que Mourão disse, a lista que aparece em seu nome não é uma montagem. Ele teria levantado cerca de R$ 100 milhões para campanhas em Minas. Na lista aparece também o ministro de Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, do PTB, que nega ter atuado na campanha de Azeredo em 1998. A polícia informa no relatório, no entanto, que Mares Guia teria ajudado a relacionar políticos que receberiam dinheiro do esquema, indicou o publicitário Duda Mendonça como coordenador de marketing da campanha e ainda teria atuado para obter empréstimos junto ao Banco Rural – uma das instituições financeiras que apareceram depois no mensalão do PT.

– O atual ministro Walfrido dos Mares Guia também participou ativamente das negociações envolvendo a contratação do publicitário Duda Mendonça, cujo pagamento, no total de R$ 4,5 milhões, foi suportado com recursos disponibilizados por Marcos Valério – diz Zampronha no relatório.

Um manuscrito descoberto entre os papéis apreendidos faz referência a sigla JM, ao lado de uma cifra de R$ 500 mil. O ministro explicou que era a então candidata ao Senado, Júnia Marise. Mais tarde, a polícia descobriu que uma das empresas de Marcos Valério transferiu à conta de Marise R$ 200 mil.

Contra Mares Guia pesa ainda um documento da Receita Federal, anexado ao inquérito, mostrando que, nos últimos anos, houve grande discrepância entre as movimentações financeiras de uma empresa do ministro, a Samos Participações, usada para tomar um empréstimo para Eduardo Azeredo, e a receita declarada. A diferença, de R$ 22,2 milhões para R$ 1,11 milhão, equivale cerca de 20 vezes o valor declarado.

As investigações em torno do mensalão tucano começou em 2005, cinco meses depois de o esquema petista se tornar conhecido. Na denúncia aceita pelo STF contra o ex-ministro José Dirceu e outros 39 envolvidos no mensalão, o procurador já chamava a atenção para os tucanos ao lembrar que Marcos Valério, segundo ele, “um verdadeiro profissional do crime”, já havia prestado “serviços delituosos semelhantes” ao PSDB mineiro. Ele ressaltou, na ocasião, que uma funcionária do publicitário Simone Vasconcelos havia trabalhado na campanha de Azeredo e, mais tarde, indicada justamente por Cláudio Mourão para trabalhar com Valério.