PF tenta evitar uso político
A cautela na condução das investigações, que praticamente começam só com a conclusão dos laudos periciais, é uma forma de evitar um desgaste futuro da instituição. Os exames nos 13 computadores da Casa Civil não ficaram prontos ontem, como se esperava, o que atrasará ainda mais a apuração do vazamento.
A primeira etapa da investigação começou no dia 8 de abril, quando a PF apreendeu sete computadores da Casa Civil. Os equipamentos foram usados na manipulação das planilhas com as despesas do governo de FHC. Depois, outras seis máquinas de uso pessoal de servidores do Palácio do Planalto também foram enviadas para a PF para serem periciadas. A segunda parte da apuração será ouvir os funcionários que tiveram acesso aos dados. Eles serão chamados depois da conclusão dos exames, o que deverá acontecer apenas na próxima semana. Uma das convocadas será a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, considerada uma das pessoas de maior confiança da ministra Dilma Rousseff.
O temor dentro da PF é com o uso do resultado das apurações. Isso, com certeza, vai acontecer, seja por um lado ou por outro, observa um delegado que acompanha a investigação. O policial exemplifica, citando outros fatos envolvendo servidores ou ligados ao partido do governo, como o mensalão e o dossiê dos aloprados, um caso semelhante ao atual. Em setembro de 2006, três petistas compraram um conjunto de papéis com denúncias contra o atual governador de São Paulo, José Serra, então candidato tucano ao Executivo paulista. O trio foi preso pela PF em um hotel com R$ 1,7 milhão, quase complicando a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Denúncia
A escolha do delegado Sérgio Barboza Menezes para presidir o inquérito foi uma das medidas que a PF tomou para se precaver. Ele pouco fala, não dá detalhes sobre investigações e já esteve à frente de casos envolvendo políticos, como na denúncia em que o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti tinha recebido propina do dono de um restaurante. Menezes só falou quando concluiu o caso. Nem mesmo para colegas o policial dá informações sobre suas atividades, inclusive para seus superiores. É uma medida acertada, tratando-se de uma apuração dessta natureza, ressalta um delegado, referindo-se à conotação política do processo.
O delegado não sabe quantas pessoas deverá ouvir, mas pelo menos sete os seis servidores e Erenice já estão praticamente confirmados. Partiu dela o pedido para que fosse feita uma reunião de papéis relacionados às despesas de Fernando Henrique. Os demais manusearam os documentos, passando a parte manuscritas para os computadores da Casa Civil. Tecnicamente a PF teria condições de chamar Dilma para depor na condição de testemunha, mas fontes da instituição admitem que isso não deverá acontecer.
Há a possibilidade de pessoas de fora do Palácio do Planalto serem chamadas para depor no inquérito, desde que sejam constatadas nas investigações que o vazamento foi tramado fora da Casa Civil. Nada pode ser descartado neste momento, diz um delegado. Esse foi um dos motivos que levaram a PF a requisitar imagens do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República sobre quem saiu e entrou nas dependências da Casa Civil.