PF vê empréstimo não declarado na defesa de Renan

23 de agosto de 2007 09:37

Essa é uma das revelações da perícia feita pela Polícia Federal nos documentos do senador. A empresa, segundo o laudo policial, chama-se Costa Dourada Veículos Ltda. e o empréstimo foi de R$ 178 mil.

A Costa Dourada é uma locadora de veículos, com sede em Maceió (AL), que pertence a Ildefonso Antônio Tito Uchôa Lopes, primo e suposto laranja do senador. O contrato foi apresentado à PF pelo próprio senador no dia 17. Diz o laudo: Não se tratou de apenas dois empréstimos, mas de dezenas de retiradas em espécie, periódicas, ocorridas nos primeiros meses dos anos de 2004 e 2005; e que os valores não transitaram pelas contas apresentadas.

Após cruzar os dados dos contratos (um deles sem as assinaturas das partes) com os livros de caixa da empresa, os peritos registraram que em 2004 Renan recebeu R$ 78,8 mil, em 19 parcelas, da Costa Dourada. No ano seguinte o montante foi de R$ 99,3 mil, em 24 retiradas.

Apesar de ter emprestado R$ 99,3 mil para o senador em 2005, a empresa registrou um lucro de R$ 71,5 mil naquele ano. Outro problema apontado pelo peritos da PF: Passados mais de três anos das primeiras retiradas, não há registro de pagamentos ou amortizações parciais dos recursos.

O laudo também indica a cumplicidade de agentes do governo para favorecer a empresa. Ficou constatado que a receita da Costa Dourada era proveniente de veículos locados por empresas públicas, entre elas a Companhia de Saneamento de Alagoas, Companhia Energética de Alagoas, Secretaria de Estado de Defesa Social, Secretaria Executiva de Esporte e Lazer, Tribunal de Contas do Estado, Secretaria da Coordenação da Saúde e do Bem-Estar, Secretaria de Assistência Social e Prefeitura de Barra de São Miguel – onde Renan tem uma mansão à beira-mar.

Os peritos chamam a atenção para pagamentos que foram feitos em dinheiro vivo pelos serviços de locação: Fato não condizente com a forma usual de pagamentos efetuados por órgãos públicos, que é por meio de ordem bancária.

O proprietário da Costa Dourada é um nome conhecido no Conselho de Ética do Senado. Ele é citado como testa-de-ferro de Renan em fazendas na região de Murici, cidade natal do senador, e em uma empresa de comunicação – comprada em sociedade com o usineiro João Lyra, em 1998. A sociedade foi negada por Renan, mas o usineiro confirmou publicamente o negócio. Ele também disse que, por indicação do senador, o negócio foi registrado em nome de terceiros. Hoje, após o fim da sociedade, a JR Difusão está em nome de Tito Uchôa e do filho do senador, Renan Calheiros Filho.

Os dois são sócios em outra empresa de radiodifusão que leva o nome da locadora: Sistema Costa Dourada de Radiodifusão. Além da locadora e da empresa de comunicação, Tito Uchôa, que foi secretário de Turismo do ex-governador Ronaldo Lessa, controla a Costa Dourada Turismo. Procurado pelo Estado, o empresário não foi localizado.

STF

Cópia do laudo da PF foi entregue ao Supremo Tribunal Federal, que abriu inquérito para investigar a relação de Renan com Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior.

Peemedebista depõe no conselho

O senador Renan Calheiros presta depoimento hoje, às 18 horas, em sessão fechada do Conselho de Ética. O peemedebista será ouvido pelos senadores Marisa Serrano (PSDB-MS), Renato Casagrande (PSB-ES) e Almeida Lima (PMDB-SE) na investigação sobre suspeita de que teria suas despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo. Renan estará acompanhado por um perito, contratado por ele, e que o ajudará a esclarecer dúvidas que constam no laudo feito pela Polícia Federal nos documentos apresentados na sua defesa.

Em rápido discurso, no qual salientou os pontos que considera positivos na perícia, Renan disse que, como se trata de laudo técnico, tratará do assunto de modo técnico . Ele destacou que todos os documentos apresentados por ele são autênticos, comprovam que possuía recursos para fazer face às despesas e que o gado comercializado foi vendido a preços de mercado. O dinheiro produzido por todas as vendas foi depositado em minha conta bancária , afirmou.