Polícia brigou por achaque, diz cúmplice de Abadía

9 de outubro de 2007 10:59

Esse policial ficou indignado com o valor pago pelo resgate de Henry Lagos, o Pacho, primeiro comparsa de Abadía levado pelos achacadores. Pacho foi seqüestrado e torturado e sua liberação valeu pelo menos US$ 280 mil, em espécie. O grupo então virou cliente , o que na gíria dos policiais significa que eram alvo fácil de extorsão.

O piloto André Luiz Telles Barcellos, braço direito de Abadía, foi seqüestrado dois meses depois – segundo as descrições, pelo mesmo grupo que levou Pacho. Nessa investida, foi usada uma Blazer da polícia. Os policiais levaram US$ 220 mil e um carro da quadrilha, de acordo com as denúncias feitas à PF.

Maróstica disse que foi parado por quatro homens armados na Avenida Indianópolis, perto de uma de suas lojas. Eles perguntaram sobre o caso de Pacho por mais de cinco horas. Quando descobriram o valor do resgate, deixaram clara a insatisfação: Não podemos ficar no prejuízo.

Os achacadores exigiram e levaram, no dia seguinte, uma motocicleta de Maróstica. O empresário negociou diretamente a entrega da documentação da moto com um policial, que se identificou como Pedro e deixou o número de Nextel.

No mês seguinte, a vítima foi a mulher de Maróstica, Ana Maria Stein. Levada à sede do Denarc, no Butantã, zona oeste, ela ligou para o marido, que assumiu a negociação com os policiais. Entrou em contato com um influente investigador, identificado apenas como Diogo,que ficou de apurar a equipe responsável pela operação .

Foi nessa etapa da negociata que, segundo Maróstica, apareceram o delegado Pedro Luiz Pórrio e o agente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) Severino Amâncio da Silva. Silva, por exemplo, levantou a ficha do carro importado do casal, alegou que ele estava em situação irregular e conseguiu R$ 50 mil para deixar a documentação em dia.

Até ontem, Silva, Pórrio e seis policiais haviam sido afastados pela Secretaria de Segurança. Os achaques estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual e pela Corregedoria da Polícia Civil. Todos os acusados de pertencer à quadrilha falaram com o MPE, mas só Barcellos depôs na corregedoria. Sérgio Alambert, advogado de Abadía, disse que ele não quis falar por medo, pois se tratava da mesma polícia que o extorquiu . O advogado de Maróstica, Julio Clímaco Júnior, não quis comentar as denúncias de corrupção. A preocupação do casal é a de se defender no processo de lavagem de dinheiro. O advogado de Barcellos, Lúcio Santoro de Constantino, não foi localizado.