Polícia Federal vai investigar exame da OAB-SP

10 de dezembro de 2007 13:31

A fraude na primeira fase do exame da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) será investigada pela Polícia Federal, segundo o presidente da seção São Paulo da entidade, Luiz Flávio Borges D Urso. A prova foi cancelada às pressas na noite de sábado, após denúncia de que um professor de cursinho havia vazado questões para os alunos. Mesmo com a divulgação da notícia por rádio e TV, cerca de
10% dos 25 mil inscritos compareceram aos locais de prova na manhã de ontem.
A denúncia foi recebida via e-mail pelo procurador-geral do Ministério Público Estadual, Rodrigo Pinho, que então repassou as informações a D Urso, na tarde de sábado. O relato era de que um professor de um cursinho preparatório para o exame havia divulgado, em sala de aula, questões que com certeza cairiam na prova. Pinho não revelou a identidade do denunciante.
A mensagem continha cópia de sete ou oito perguntas que teriam sido vazadas pelo professor. Checamos e descobrimos que duas eram questões, na íntegra, da prova e o restante era parte de outras perguntas , relatou D Urso. Para ele, não há dúvidas de que houve fraude. Por isso a prova foi cancelada. Ele disse não saber o nome do cursinho ou do professor que revelou as questões. Mas a pessoa que fez a denúncia certamente sabe.
Pinho informou, por meio de nota, que encaminharia os dados hoje à Polícia Federal. Considerando-se que a OAB é autarquia federal, a atribuição para apuração da responsabilidade criminal é da Justiça Federal , disse.
O exame da OAB é obrigatório para exercer a profissão de advogado. A primeira fase é composta por 100 perguntas de múltipla escolha. Segundo D Urso, as questões são sugeridas por professores e advogados de renome. Nós temos uma espécie de banco de perguntas. Não aceitamos colaborações de professores de cursinho preparatório. A única pessoa que tem acesso a essas questões é o nosso presidente da Comissão do Exame da Ordem, Brás Martins Neto , disse.
Martins foi quem selecionou as questões que entrariam na prova de ontem. Nem o presidente da entidade teve acesso a elas. Dez dias antes do exame, as questões foram enviadas à Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista (Vunesp), responsável pela impressão das provas. Por contrato, a Vunesp tem o dever de manter o conteúdo dos exames em sigilo. Não podemos acusar a Vunesp. Só a investigação vai dizer de onde surgiu o vazamento. Depois de apontados os culpados, vamos procurar o ressarcimento dos nossos prejuízos , disse D Urso.
A Vunesp informou que não se manifestaria ontem e que tinha marcada para hoje uma reunião para discutir o assunto.
Um novo exame será marcado para 2008 (sem data prevista). A segunda fase, agendada para o dia 20 de janeiro, também será adiada. A taxa de R$ 180 não precisará ser paga novamente. A OAB-SP estuda ressarcir quem precisou se deslocar de sua cidade para fazer a prova na capital.
É a primeira vez, desde a década de 70, que a prova aplicada no Estado de São Paulo precisa ser cancelada. Problemas parecidos já aconteceram no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Surpresa
O cancelamento pegou muitos candidatos de surpresa. Por volta das 7 horas, centenas de pessoas se aglomeravam na entrada das faculdades UniFMU, na Liberdade, e na Universidade Paulista (Unip), no Paraíso. Como assim não vai ter exame? , perguntava Ana Cristina Velami, de 37 anos. Eu voltei da praia só pra fazer esse teste. Que absurdo.
Muita gente que ficou sabendo do cancelamento pela mídia também preferiu não arriscar e foi até o local indicado para o teste. Uma amiga tinha visto a notícia na TV e eu tentei confirmar no site da entidade. Como não tinha nada, decidi vir até a porta só para me garantir , disse Alex Novac, de 34 anos.
Candidatos tiraram fotos, com o celular, do comunicado afixado no portão da UniFMU. Imagina se eu vou embora e eles resolvem liberar a entrada, disse Novac. Segundo a OAB-SP, por problemas técnicos, a notícia do cancelamento só entrou em seu site às 23h30 do sábado.