Por que Lair Ferst virou alvo da PF
Além do empresário, que atuou na indústria calçadista, cinco pessoas ligadas a ele foram indiciadas pela Polícia Federal (PF) no inquérito: duas irmãs, um cunhado, um contador e um suposto laranja.
No inquérito, Ferst é descrito como o elo entre o Detran e a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec). Juntamente com José Fernandes, dono da Pensant Consultores, descrita na apuração como mentora da fraude, ele teria negociado a contratação, pelo Detran, da Fatec e de empresas parceiras – entre as quais a Newmark Tecnologia e a Rio del Sur, de parentes do próprio Ferst – , em 2003. Depoentes afirmam que o empresário se apresentava como empregado da Fatec – função que efetivamente exerceu, com intervalos, entre 2004 e 2006. Além disso, é amigo do então diretor-presidente do Detran, Carlos Ubiratan dos Santos, há mais de 25 anos.
A investigação indica que Ferst seria o verdadeiro dono da Newmark e da Rio del Sur, além de administrador e um dos beneficiados pela propina decorrente do esquema. As empresas estão em nome de familiares dele. Nos três depoimentos que prestou à PF – dois deles enquanto esteve preso com mais 12 suspeitos de relação com a fraude – , negou ser o proprietário.
Ex-colaborador de Marchezan se tornou tucano nos anos 90
Formado em Direito pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), o empresário ficou conhecido ao se casar com a miss Brasil Deise Nunes Ferst, em 1989. Filiado ao PSDB em 5 de abril de 1997, ele foi uma espécie de sombra da então deputada federal Yeda Crusius durante a campanha para governador, em 2006. Mesmo sem cargo, era tratado como um dos coordenadores do grupo que comandou a vitória tucana. Segundo um ex-integrante do PSDB, que pediu para não ser identificado, Ferst era responsável pela agenda de Yeda, incluindo contatos com empresários.
– Ele resolvia todos os problemas financeiros que surgiam – diz o ex-tucano.
No dia-a-dia, lembra Bercílio Silva, que foi presidente do comitê financeiro de Yeda, Ferst agia como se fosse um militante comum. Sua personalidade, de acordo com Silva, explicaria a constante presença em atos da candidata.
– Lair sempre foi um pouco saliente – afirma.
A proximidade de Ferst e Yeda seguiu um roteiro improvável. Tido como habilidoso e bem-relacionado, Ferst estreou na política como colaborador do deputado federal Nelson Marchezan (Arena, PDS e PPR), morto em 2002. Marchezan deixou o PPR por ser contrário à fusão com o PP, em 1995, e no ano seguinte migrou para o PSDB. O empresário acompanhou-o. Demorou, porém, a se sentir à vontade no ninho tucano. Durante o governo de Germano Rigotto, teria sido proibido de entrar no Palacinho por divergências com o vice-governador Antonio Hohlfeldt, então no PSDB e hoje no PMDB.
No interior do PSDB, Marchezan e Yeda eram rivais. Segundo um ex-dirigente tucano, a governadora não nutria simpatia por Ferst até o início da corrida para o Piratini. O fino trato e as boas relações do empresário com o empresariado teriam selado a aproximação com Yeda. Depois de preso e indiciado no caso Detran, Ferst foi suspenso do partido.