Por que não gostamos de burocratas

13 de junho de 2013 10:55

Devo confessar: desde o mês passado, sou burocrata. Passei em um concurso para dar aula de políticas públicas na Universidade Federal do ABC. Após a alegria familiar por “finalmente ter um emprego fixo”, “agora você tem aposentadoria garantida!”, comecei a pensar mais na conotação negativa sobre o que é ser servidor público ou “burocrata”.

Longe de esgotar o assunto, três pontos me vêm à cabeça: 1) burocratas são folgados; 2) burocratas são mal-preparados para o serviço que devem fazer; 3) burocratas só pensam na própria carreira e não no atendimento à população.

Não vou tratar dos primeiros dois pontos. Gente folgada e mal-preparada há em qualquer lugar. O fato de a imensa maioria – cerca de 95%, de acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal editado pelo Ministério do Planejamento – dos cargos no governo federal serem obtidos através de concurso é um incentivo para que pessoas bem-preparadas, com bom currículo em suas áreas, queiram ser burocratas. Os salários relativamente altos em comparação ao setor privado são outro grande incentivo, e aí é que está o perigo de meu terceiro ponto.

Há a  déia de que os burocratas fazem de tudo para obter maiores salários e gastam um tempo desproporcional de suas horas no trabalho em busca deste objetivo. O artigo de Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, delegado da Polícia Federal, na Folha de hoje é um bom exemplo.

Ribeiro reclama que os policiais federais têm “salários inferiores ao das polícias legislativas do Senado e Câmara e das polícias civis de vários Estados. Nossa gratificação de chefia é dez vezes menor do que a Polícia Civil do Distrito Federal. Temos menos gratificações e chefias do que a Funai. Além disso, falta uma estrutura administrativa adequada, não há reposição salarial da inflação e há a demora na implantação de benefícios para os policiais lotados nas fronteiras”.

Poderíamos pensar, a partir disso, que a Polícia Federal tem poucas reivindicações atendidas pelo governo. Não é esta a impressão que fica a partir da leitura de um estudo de Eneuton Dornellas Carvalho, do IPEA, sobre salários dos servidores públicos federais. Carvalho cita a Polícia Federal como exemplo de burocracia com prestígio e alto poder de barganha, observando, por exemplo, que os cargos auxiliares desta burocracia tiveram reajuste de 172% entre 2002 e 2004.

O estudo também afirma que o reajuste dos “vencimentos máximos” (ou seja, o máximo que um burocrata pode ganhar na carreira) das carreiras da Polícia Federal acompanhou o reajuste dos “vencimentos iniciais” (ou seja, quanto o sujeito começa ganhando uma vez que entra no serviço público) – caso raro no governo federal.

Depois não sabemos por que a sociedade desconfia de nós.

Link: http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/estadoecia/2012/06/18/por-que-nao-gostamos-de-burocratas/