Primeira turma concursada de Delegados Federais
Antônio Manuel Costa, ou simplesmente Costa, como foi chamado ao longo dos seus 30 anos de carreira como delegado de polícia federal, nasceu em Quintanilha, Portugal, e chegou ao Brasil com quatro anos de idade. Naturalizou-se brasileiro e aos 18 anos já trabalhava como professor de inglês e português no estado de São Paulo, além de acumular o serviço de fiscal da saúde.
Em 1977, ingressou na Polícia Federal após prestar o primeiro concurso externo para o cargo de delegado, efetivamente com esta nomenclatura. Costa lembra que a vontade de ser policial foi algo inusitado. “Eu era muito fã de um filme chamado ‘Na Corda Bamba’, que conta a história de um agente secreto. E eu tinha muita vontade de ser agente secreto e trabalhar com isso”, conta sorrindo.
O primeiro lugar onde começou a trabalhar foi no estado de Roraima. De lá foi removido para São Paulo, pelo chefe da Casa Civil da época.
“Ele chegou pra mim e perguntou se eu estava a fim de ir para São Paulo. Eu respondi que sim, pois era o que eu mais queria naquele momento. Mas fiquei pensando que era quase impossível eu ser transferido. No outro dia abri o Diário Oficial e tinha lá: São Paulo”, relembra o delegado.
Costa foi chefe da Censura, chefiou também o Serviço de Operações Fazendárias, Marítimas, Aéreas e Fronteiriças, trabalhou em Serviço de Operações do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e foi convidado pelo ex-presidente da República Jânio Quadros, que na época era prefeito de São Paulo, a chefiar a Polícia Municipal do Estado.
Em São Paulo, Costa começou a trabalhar na galeria Pagé, um prédio com centenas de lojas que vendiam principalmente mercadorias como eletrônicos, calçados, produtos esportivos, jogos e brinquedos.
O delegado conta que uma vez, Nelson Marabuto, então superintendente de São Paulo, comentou que precisava de viaturas para a Polícia Federal.
“Eu perguntei quantas ele queria, que eu iria conseguir. Mas ele não levou a sério. Outro dia apareci com cerca de 40 automóveis na Superintendência e ele ficou sem entender como eu tinha feito aquilo”, lembra.
Costa revela como foi a estratégia inusitada que usou para conseguir os veículos. O delegado pegou o catálogo telefônico com o número de todas as lojas da galeria Pagé e começou a ligar de uma a uma falando: “pintou sujeira”. Após ligar para a última loja da relação, ele e sua equipe foram direto para a galeria. Chegando lá, os comerciantes estavam todos na frente do prédio esperando a abordagem da Polícia Federal. Foi então que o delegado falou: “Fechem o estacionamento! Ninguém entra e ninguém sai. Vamos revistar os carros”.
Ao fazer a vistoria, a Polícia Federal encontrou uma grande quantidade de produtos falsificados e contrabandeados. O delegado mandou apreender todos os veículos e o juiz acabou nomeando a Polícia Federal como fiel depositária dos bens.
“O Marabuto ficou encantado”, lembra.
Da capital de São Paulo, Costa foi transferido para Guarulhos, onde participou de inúmeras operações e prisões, dentre elas a prisão do secretário de Saúde da cidade á época, a interdição do Shopping Eldorado e a prisão do sócio do Pelé. “Na verdade eu fui para prender o Pelé, mas acabei prendendo só o sócio dele”, lamenta.
Os anos na Polícia Federal lhe renderam muitas histórias. Delas surgiram dois livros: “Droga: a fina flor do crime”, que vendeu mais de 40 mil exemplares e mostra como identificar os usuários de entorpecentes, como perceber se as pessoas ao seu redor estão usando as drogas. “É uma leitura indicada para mães e pais que têm filhos adolescentes”, afirma o delegado.
Ele também escreveu “O que os advogados não sabem e muito menos seus clientes”, em que relata histórias vividas por ele e por conhecidos durante o tempo em que foi jurista. O livro foi lançado no Brasil e em Portugal e já vendeu milhares de cópias.
A
tualmente o delegado está escrevendo mais dois livros: “Fui prostituta, agora sou juíza” e “Finja-se de mentiroso e tenha sucesso”. O primeiro relata com mais detalhes uma das histórias do livro “O que os advogados não sabem e muito menos seus clientes” e o segundo é para mostrar que o mundo vive de grandes mentiras.
Além da profissão de delegado de polícia federal, Antônio Manuel Costa também sempre teve a educação como amante. Licenciou-se em Letras, pela Universidade de Guarulhos, diplomou-se em Pedagogia, Administração e Educação pelas Faculdades Integradas de Guarulhos, formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas, fez mestrado em Processo Penal e especializou-se em Neurolinguística e Linguística.
Também foi professor universitário na Universidade de Guarulhos e nas Faculdades Integradas de Guarulhos, onde deu aula de Direito Penal e de Estudos de Problemas Brasileiros.
“Na época, fui autorizado pela Polícia Federal a lecionar. A educação sempre foi uma das minhas paixões”, conta.
Hoje, aposentado da Polícia Federal, Costa administra seu próprio colégio em Guarulhos. A instituição conta com mais de mil e duzentos alunos, em quatro unidades.
|VOCÊ SABIA? No início, o cargo de delegado era denominado “inspetor de polícia federal”, até o 9º Curso de Inspetor de Polícia Federal. O primeiro concurso externo para inspetor ocorreu em 1970. Já em 1977, a nomenclatura já tinha sido alterada e foi então realizado o 1º Curso para Delegado de Polícia Federal.