Procuradoria vai investigar falhas na fiscalização do leite

1 de novembro de 2007 10:20

O Ministério Público Federal de Minas Gerais abriu um inquérito civil para apurar falhas no sistema de fiscalização do SIF (Serviço de Inspeção Federal), do Ministério da Agricultura, e a possível existência de fraudes similares em outros laticínios das regiões de Uberaba e Passos.

O procurador da República de Uberaba, Bruno Nominato de Oliveira, pretende ouvir nos próximos dias pessoas e autoridades mineiras envolvidas na fraude do leite. “A permanência do fiscal do Ministério da Agricultura dentro dos laticínios pode ter contribuído para as fraudes”, afirmou.

A Folha procurou ontem o ministério para comentar o assunto, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

Na semana passada, a operação Ouro Branco da Polícia Federal prendeu em Uberaba 19 pessoas acusadas de adicionar no leite substâncias como soda cáustica e água oxigenada para aumentar o volume e o prazo de validade, entre elas diretores da Copervale (Cooperativa Regional de Leite do Vale do Rio Grande).

Cinco deles foram soltos na sexta-feira e, ontem à noite, seria libertado o presidente, Luiz Gualberto Ribeiro Ferreira. Mesmo após sua saída, a Copervale continuará sendo dirigida pelo interventor Geraldo Cardoso Sobrinho, segundo a Justiça Federal.

Outros quatro detidos em Passos também deixariam a cadeia ontem à noite.

Fraude antiga

As suspeitas de adulteração do leite produzido no país já existiam há quatro anos, de acordo com Jorge Rubez, 70, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite.

Segundo ele, há quatro anos foi feita a análise em parte dos laticínios e marcas do Brasil e em aproximadamente 3% foram constatadas irregularidades, mas nada foi feito e ninguém foi punido. “Não deu em nada porque o caso se perdeu na burocracia.”

Rubez disse que, à época, poucos laboratórios do país tinham condições técnicas para fazer a análise do soro do leite e que equipamentos foram comprados para municiar os centros, mas o caso se perdeu em questões jurídicas.

“Nem os nomes e a quantidade de empresas envolvidas foram divulgadas, mas o episódio foi positivo para o setor”, disse.

Apesar de não ter havido punição, Rubez afirmou que a fiscalização acabou com a fraude, porque todas as cooperativas sabiam que os órgãos estavam aparelhados para encontrar possíveis irregularidades.

No caso de Uberaba, na avaliação dele, a fraude só foi possível porque houve participação de fiscais do SIF. “Tinha a conivência dos fiscais. Senão, não faz [a fraude]. Muito raramente consegue fazer isso.”

Apesar de se dizer favorável à ação da PF, ele disse que foi exagerada. “Era preciso ter prova, contraprova, multar e fechar. Depois da contraprova, tem direito de defesa e, só depois disso, [poderia] prender.”

MARCA SUSPEITA ESTÁ À VENDA EM RIBEIRÃO PRETO

Pelo menos uma das sete marcas de queijo mussarela apreendidas pela Polícia Federal em um galpão de Uberaba (MG) -onde o produto vencido era preparado para comercialização- está à venda em Ribeirão Preto. Ou estava até ontem. A reportagem percorreu 17 supermercados da cidade e encontrou o queijo Lactorei no Big Compra, da Vila Tibério. Ribeirão foi uma das cinco cidades paulistas citadas por um dos funcionários detidos no galpão como destino do queijo apreendido, que será descartado no aterro de Uberaba. No total, a Polícia Federal apreendeu 16 toneladas que teriam vindo de laticínios de Goiás.