Programas educacionais dão uma segunda chance a presos

17 de dezembro de 2007 10:49

Desde outubro, a delegacia vem oferecendo aulas a 50 presos, iniciativa do delegado titular, Orlando Zaconi, e do chefe da carceragem, o inspetor Júlio César Pereira de Oliveira. Os cursos integram os programas Brasil Alfabetizado e Tecendo o Saber, do Ministério da Educação.

– Queremos mostrar que é possível recuperar os presos – diz Júlio César. – A gente admite que muitos deles não têm condições de voltar à sociedade, mas a maior parte dos casos não é bem assim.

As instalações do distrito policial, cuja carceragem abriga 311 presos, são antigas e mal conservadas, em nada lembram as unidades coloridas e modernas da rede Delegacia Legal. O visual das salas de aula, entretanto, é caprichado. As paredes são pintadas de verde clarinho, as carteiras, brancas, não têm nenhum rabisco. O espaço conta com aparelhos de ar-condicionado e os alunos, matriculados na rede municipal de ensino, com dois professores e todo o material didático. Os cursos têm suporte de teleaulas, assistidas numa TV de 42 polegadas, coisa de dar inveja a muita escola particular.

– No início, eu era calado, não sabia fazer nada e ficava com vergonha. – conta, muito tímido, Carlos Alberto Silva Araújo, de 28 anos, preso por homicídio. – Quero aprender a escrever, pois sempre trabalhei em borracharias, vou poder fazer orçamentos e nota fiscal.

Alunos divididos por facções
A idéia de instalar atrás das grades um curso de alfabetização surgiu há dois anos, quando o inspetor trabalhava na delegacia de Araruama, na Região dos Lagos. Sensibilizou-se com o preso Daniel Borges, de 44 anos, condenado por homicídio: o detento, analfabeto, não conseguia discar os números no telefone. Decidiu, então, recrutar voluntários para dar aulas. Em março deste ano, quando veio trabalhar em Nova Iguaçu – coincidentemente Borges também foi, por determinação da Justiça, transferido para o mesmo local – percebeu que o delegado da 52ª DP também queria fazer algo parecido.

Para completarem o ciclo e receberem o certificado, os estudantes precisam saber o conteúdo de oito livros. As aulas, de segunda a sexta-feira, respeitam o código interno da cadeia, cujos presos são separados em alas de acordo com a facção criminosa. De manhã, freqüentam o curso detentos do Comando Vermelho. À tarde, é a vez dos do Terceiro Comando. Os dois professores aprenderam a conviver com isso.

– São profissionais sem preconceito e com experiência com pessoas em situação de vulnerabilidade social. O professor, onde quer que esteja a sala de aula, é companheiro do aluno – ressalta a coordenadora do Brasil Alfabetizado em Nova Iguaçu, Bernadete Rufino.

Além da escolinha, a cadeia tem igreja evangélica, biblioteca e salão com TV e DVD. Este ano, o músico Marcelo Yuka, com apoio do delegado, criou lá o Cineclube Carceragem, com sessões comentadas por ele a cada 15 dias. A intenção de Zaconi e Júlio César, que buscam parcerias com empresas e órgãos públicos, é oferecer, a partir de janeiro, cursos de manutenção de microcomputadores, artesanato e perfumaria. Pretendem ainda ampliar o curso até o ensino médio e o pré-vestibular. Zaconi vê o projeto com ambição:

– Estamos preparando hoje o futuro primeiro colocado do vestibular de medicina da UFRJ.